Este fim-de-semana vi o primeiro episódio de uma série que está em exibição no canal AXN Black HD e que me causou um enorme desconforto e uma tremenda emoção. Trata-se da série “Nazismo – os anos de pesadelo”.
Neste episódio, começaram a relatar-se os primeiros anos de implantação no nazismo na Alemanha. Relata-se a vivência de um casal de repórteres ingleses recém-chegados a Berlim. Começamos a apercebermo-nos daquela máquina milimetricamente preparada para subjugar um povo e marcar uma civilização. Lá está o sinistro Joseph Goebells, bem-falante, absoluto controlador da imprensa e do ensino.
A receita era fácil: montar uma impressionante máquina de propaganda para divulgar as grandes “obras” do regime e um perfeito controlo da imprensa, das instituições, quer fossem pagãs ou religiosas e uma perseguição efectiva a todos os que não comungassem com o regime. Desde logo, os padres, os artistas e os intelectuais. A cultura do “eu” personalizado em Adolf Hitler (claro narcisista…) era uma constante. Quando uma coluna militar passava numa qualquer rua, membros da sociedade civil tinham que, de imediato, se pôr em sentido e fazer a saudação nazi ou era espancado.
A preocupação com a juventude não era a sua formação geral, mas a sua formatação nos ideais do regime. Era a propalada “alma sã em corpo são” que, mais tarde também foi defendida em Portugal, durante os anos de Ditadura.
Quando, no filme, falaram com um vendedor de bandeiras, emblemas e bonés na rua este aproveitava para dar vivas ao “führer” e enaltecer as suas qualidades pois “não tinha trabalho e agora havia aqueles artefactos para vender”. O terem acabado com os sindicatos, não interessava e, muito menos, a segurança no futuro. Sentiu-se que estava subjugado e, pior que isso, convencido.
Organizavam-se bailes de gala para os jornalistas apenas com o fim de, paralelamente, se fazerem exposições das obras do regime e de, do cimo das escadas, perceberem “quem se dava com quem…”. Os bufos pululavam e faziam o seu serviço. Ainda não tinha começado a perseguição aos judeus. Nas escolas, o crucifixo era substituído pela suástica. Ficámos a saber que pensaram reescrever o evangelho porque aquele não servia os ideais da “nova Alemanha” nem os defendia convenientemente.
Este episódio, o primeiro da série terminou, de uma forma abrupta, com a prisão do primeiro padre Luterano.
Poder-me-ão perguntar se fiquei admirado com o que vi. Não, mas foi bom relembrá-lo. Já não foi tão bom perceber como foi fácil implantar um regime que se veio a revelar a página mais negra da história da humanidade. A receita é simples. Precisamos de uma figura narcisista, onde interessa muito mais a forma como fala do que aquilo que diz e rodeamo-lo de uma máquina poderoso de seguidores cegos e de uma propaganda eficaz. Os seus mais directos seguidores, não podem ser muito evoluídos para não porem em cheque as opiniões do líder e devem ter, por ele, um culto cego. Depois há que controlar a imprensa, as instituições e as escolas. Tudo o que mexer com jovens tem de ser controlado. Pode, de facto, nada fazer por eles, não se criar postos de trabalho, mas convidá-los para todos os eventos para se sentirem importantes. Também, no seu seio, temos de arranjar líderes de confiança. Todos os postos de trabalho criados devem ser subordinados ao poder para que obriguem ao cumprimento de deveres mas à ausência de direitos: “Trabalhas, mas sou EU que dou o trabalho; vives, mas sou EU que to permito e enquanto EU quiser”. Há que promover festas e mais festas para alegrar o Povo e fazer alguma caridadezinha. Nada que os tire da pobreza porque esta, na maioria dos casos, não permite sair da dependência.
Finalmente, há que afastar todos aqueles que ousam estar contra o “projecto”: a bem, ou a mal…
Se é assim tão fácil, se a “receita” está encontrada, não corremos fortes riscos de, em Portugal, acontecer a mesma coisa? Na minha opinião e se a situação que temos continuar, corremos fortes riscos de que algo do género nos possa voltar a acontecer. Estamos a perder direitos, liberdade, o clientelismo é notório, começamos a duvidar da Justiça, não acreditamos nos Políticos (quaisquer que eles sejam…) a juventude emigra, o desemprego cresce, a insegurança idem, a pobreza já não se esconde, a saúde já não é para todos. Temos pois que estar alerta e este filme fez-me despertar a consciência, fez-me ficar inquieto e é isso que vos pretendo transmitir.
E em Góis? Temos alguém narcisista (que só pensa em si, com falta de capacidade de trabalhar em grupo, afastando tudo e todos válidos que tentam influenciar, pensando que o Mundo gira à sua volta), a comandar-nos?
Quem está à frente das instituições e das estabelecimentos de ensino? São “apenas” pessoas válidas ou “têm” de ser do “regime”?
Há clientelismo? São criados empregos ou apenas trabalho precário que mantém uma clara dependência empregador/empregado. Quem está à frente das Associações de Juventude, escoteiros, casas do povo e outras organizações juvenis?
Brinca-se à caridadezinha distribuindo cabazes a quem infelizmente necessita mas não se reabilitam, transformando um pobre honrado num irreversível pedinte?!
Promovemos festas, festinhas e outras que tais, de preferência com lanche no final para manter o Povo feliz?!
Fazemos obras de “fachada”, obras de “regime” que consomem recursos e cujos resultados são duvidosos (é verdade que a rotunda junto ao Rocha Barros se arrasta no tempo, mas a estátua para colocar no centro se encontra pronta há meses?!).
Temos os nossos Goebells, os bufos que tudo e todos vigiam e transmitem superiormente? Temos os mais capazes a sair de Góis e a juventude a emigrar?! (Os Figueiredos foram obrigados a emigrar e a sua/nossa explanada não está ao abandono com uma cadeira derrubada e que espera, há meses, que o Ceira a transporte para a Figueira da Foz acompanhada por parte do Bar que não se encontra protegido…).
Somos apontados porque não prestamos vassalagem aos detentores do poder?
Ah, meus amigos! Se eu tiver razão, então teremos que nos inquietar. Há mais Hitler(s) a conviver connosco diariamente do que aquilo que pensamos. Há mais narcisistas no Poder do que aquilo que seria conveniente
(O JUMENTO) 15.01.13