quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Não Quero Deixar aos Meus Filhos um País de Novos-ricos que Dão Trabalho a Novos Escravos

Herdei um país feito de suor, de alma, de luta, de sangue, um país que me foi deixado pelo meu pai. Pelos pais de nós todos.
Sou, hoje, pai. Não posso deixar um país pior aos meus filhos. Não posso nem quero, pelo amor que sinto por eles, pelo futuro que merecem ter, também por respeito à geração anterior.
Não quero deixar aos meus filhos um país de novos-ricos que dão trabalho a novos escravos.


Escravos calados, escravos medrosos, escravos que temem, que falam baixo, que olham para o chão. Um país do respeito medo, do calado medo, do medo identidade. Do medo. Um país da caridade, e não da resposta solidária. Um país em que as pessoas estendem a mão, e não onde as pessoas agarram o que é seu por direito, um direito conquistado como seres humanos que todos os dias se levantam para uma vida de luta e de trabalho.
O nosso País não pode mais ser visto lá fora com o desdém que se olha com os que se satisfazem e docilizam com o elogio fácil, o elogio que nos faz ficar em casa pois é o que os bem comportados fazem. Não foi por isso que fomos conhecidos antes, não é por isso que seremos conhecidos agora!


Temos um governo que nos está a desafiar para sair à rua. Um desafio para mostrarmos a massa de que somos feitos. Este governo desafia-nos, olhos nos olhos. Desafia-nos nas palavras e nos actos! Não podemos mais olhar para o lado. Está na hora de, também nós, os olharmos nos olhos. Olhar nos olhos um governo que se esconde atrás da troika. Um governo que se esconde atrás da culpa de outros, a liturgia gasta da pesada herança, nunca a culpa é deles. Um governo que falha, erra, mente, mas que nos quer convencer que sempre disse a verdade e nada mais do que a verdade.


Um Primeiro-ministro que às 7:20 da tarde “sofre” enquanto fala ao país, mas que às 8 já canta, não me merece respeito.

Abriram a porta do nosso país a uma quadrilha de agiotas que nos veio saquear e pilhar, não vieram ajudar.
O mais perigoso ladrão é o que entra em nossa casa pela porta de frente, convidado, como se fosse nosso amigo. Um amigo não cobra 34,4 mil milhões por um empréstimo de 78 mil milhões!! A agiotagem travestida de solidariedade. E é suposto agradecermos!


Pelo menos permitam-nos que chamemos os bois pelos nomes! E é isso que faremos no próximo dia 15 de Setembro. Recuperar a nossa dignidade, o nosso orgulho, as nossas vidas que estão sob sequestro, por parte desta gente sinistra que entrou em nossa casa, convidada por gente ainda mais sinistra.


Mudança? Talvez começar por eleger Portugueses que governem a pensar no bem estar de nós todos, e não governem no intereresse da oligarquia arrogante, parasita, mais ou menos oculta, que nos governa desde sempre. Seria, finalmente, um bom começo. Esse será o amanhã pelo qual todos teremos que lutar!


Não é hora de ficar em casa. Espero ter muita gente na rua no próximo dia 15. Mas mesmo que sejamos poucos, vamos insistir, insistir, insistir até ao dia em que seremos muitos, o dia em que eles não vão conseguir deixar de nos ver!
Olhei para o lado, e vi gente com alma, gente ao lado da qual me orgulho de caminhar. Junta-te a nós!

RICARDO MORTE in que se lixe a troika

A vingança

Na semana passada ocorreu um inclassificável golpe terrorista contra o povo português. Não meteu explosivos, nem armas, nem aparatos de rua. Limitou-se a um discurso do chefe do governo difundido antes de um desafio de futebol. Esse discurso anunciava a condenação, por via fiscal, à fome, à doença, ao desespero, ao aviltamento de milhões de pessoas por perversão de governantes sem um pingo de decência. A intervenção, lida de lábios cerrados, não disfarçava ressabiamentos, provocações, vinganças – lembrando as de apaniguados de Sócrates a avisar que quem se metesse com eles, levava. 
Ora quem se meteu a sério com o governo não foram as oposições, foi o Tribunal Constitucional e a troika, ao atribuir a situação portuguesa à sua (in)competência. Repreendidos e traídos, os boys de São Bento entraram de congeminar vingança. Se em relação aos patrões (externos) fingiram não perceber a acusação, em relação aos opositores (internos), não – daí a desforra: afrontaram o TC, alfinetaram o PR, enxovalharam os partidos, rapinaram os trabalhadores, declararam lixo os reformados e pensionistas, tratando todos como débeis mentais. Muito poucas vezes se viu tanta insensibilidade, arrogância, hipocrisia, mentira juntas! “Lavra no país um grande incêndio de ressentimento e ódio”, afirma (em carta aberta ao primeiro- -ministro) o escritor Eugénio Lisboa que, dos seus 82 anos, lhe grita: “Todo o vosso comportamento não convida à esperança!” Às 19h20 da última sexta-feira, Passos começou a perder Portugal. Zés do Telhado do nosso socorro, levantem- -se e caminhem antes que o percamos nós também!
in, ionline 13.09.12 Por Fernando Dacosta

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

"No dia 15 de Setembro, quem ficar calado não tem razão"

"É Preciso Gritar. No dia 15 de Setembro, quem ficar calado não tem razão". O apelo é do escritor José Luís Peixoto, que se junta ao coro de vozes de um grupo de personalidades que decidiu criar no Facebook - e também num blog - um evento de protesto contra a troika e as medidas de austeridade actualmente impostas ao país.
A página no Facebook chama-se “Manifestação: Que se lixe a troika! queremos as nossas vidas!” e o protesto está marcado para vários pontos do país já no próximo sábado, dia 15 de Setembro, às 17h. Em Lisboa, o ponto de encontro será na Praça José Fontana. 

Estão também previstos protestos, à mesma hora, no Porto, Braga, Funchal, Guarda, Coimbra, Loulé, Faro, Vila Real, Covilhã, Portimão, Leiria, Aveiro e Marinha Grande, havendo uma página de Facebook para o evento em cada uma destas localidades.

E até mesmo no Brasil. O evento, com o mesmo nome, foi agendado pelos “portugueses no Brasil” e a ideia é manifestarem-se em frente aos consulados portugueses, coincidindo com a passagem por aaquele país do ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. Para já, está marcada concentração em Fortaleza, Estado do Ceará.

Na rede social, o evento conta neste momento com perto de 26.000 participantes. A ideia é que o número continue a crescer – e desde o discurso do ministro Vítor Gaspar, esta tarde, já se inscreveram mais de 1.000 pessoas – e que possa ser significativo, tal como aconteceu no ano passado, quando a Geração à Rasca juntou mais de 200.000 pessoas em Lisboa e cerca de 500.000 em todo o país.

"Quero olhar o meu filho nos olhos e dizer-lhe.... 'Eu lutei por ti e para ti...'", diz um dos participantes. "Dia 15 não há praia! Temos um país para salvar", atira outro participante. E a cada "refresh", há novas pessoas a dizer que sim, que no sábado lá estarão.


“É preciso fazer qualquer coisa de extraordinário. É preciso tomar as ruas e as praças das cidades e os nossos campos. Juntar as vozes, as mãos. Este silêncio mata-nos. O ruído do sistema mediático dominante ecoa no silêncio, reproduz o silêncio, tece redes de mentiras que nos adormecem e aniquilam o desejo. É preciso fazer qualquer coisa contra a submissão e a resignação, contra o afunilamento das ideias, contra a morte da vontade colectiva. É preciso convocar de novo as vozes, os braços e as pernas de todas e todos os que sabem que nas ruas se decide o presente e o futuro. É preciso vencer o medo que habilmente foi disseminado e, de uma vez por todas, perceber que já quase nada temos a perder e que o dia chegará de já tudo termos perdido porque nos calámos e, sós, desistimos”, diz a descrição do evento.

E prossegue: “O saque (empréstimo, ajuda, resgate, nomes que lhe vão dando consoante a mentira que nos querem contar) chegou e com ele a aplicação de medidas políticas devastadoras que implicam o aumento exponencial do desemprego, da precariedade, da pobreza e das desigualdades sociais, a venda da maioria dos activos do Estado, os cortes compulsivos na Segurança Social, na educação, na saúde (que se pretende privatizar acabando com o SNS), na cultura e em todos os serviços públicos que servem as populações, para que todo o dinheiro seja canalizado para pagar e enriquecer quem especula sobre as dívidas soberanas. Depois de mais um ano de austeridade sob intervenção externa, as nossas perspectivas, as perspectivas da maioria das pessoas que vivem em Portugal, são cada vez piores”.

“A austeridade que nos impõem e que nos destrói a dignidade e a vida não funciona e destrói a democracia. Quem se resigna a governar sob o memorando da troika entrega os instrumentos fundamentais para a gestão do país nas mãos dos especuladores e dos tecnocratas, aplicando um modelo económico que se baseia na lei da selva, do mais forte, desprezando os nossos interesses enquanto sociedade, as nossas condições de vida, a nossa dignidade. Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Portugal, países reféns da troika e da especulação financeira, perdem a soberania e empobrecem, assim como todos os países a quem se impõe este regime de austeridade”, sublinha este apelo à união “contra a inevitabilidade desta morte imposta e anunciada”, repetindo que “é preciso fazer qualquer coisa de extraordinário”.

“É necessário construir alternativas, passo a passo, que partam da mobilização das populações destes países e que cidadãs e cidadãos gregos, espanhóis, italianos, irlandeses, portugueses e todas as pessoas se juntem, concertando acções, lutando pelas suas vidas e unindo as suas vozes. Se nos querem vergar e forçar a aceitar o desemprego, a precariedade e a desigualdade como modo de vida, responderemos com a força da democracia, da liberdade, da mobilização e da luta. Queremos tomar nas nossas mãos as decisões do presente para construir um futuro”.

“Este é um apelo de um grupo de cidadãos e cidadãs de várias áreas de intervenção e quadrantes políticos. Dirigimo-nos a todas as pessoas, colectivos, movimentos, associações, organizações não-governamentais, sindicatos, organizações políticas e partidárias que concordem com as bases deste apelo para que se juntem na rua no dia 15 de Setembro. Dividiram-nos para nos oprimir. Juntemo-nos para nos libertarmos!”, conclui o manifesto, assinado por Ana Carla Gonçalves, Ana Nicolau, António Costa Santos, António Pinho Vargas, Blandina Vaz, Bruno Neto, Chullage, Diana Póvoas, Fabíola Cardoso, Frederico Aleixo, Helena Pato, Joana Manuel, João Camargo, Luís Bernardo, Magda Alves, Magdala Gusmão, Marco Marques, Margarida Vale Gato, Mariana Avelãs, Myriam Zaluar, Nuno Ramos de Almeida, Paula Marques, Paulo Raposo, Ricardo Morte, Rita Veloso, Rui Franco, Sandra Monteiro, São José Lapa, Tiago Rodrigues.

O grupo, que criou também o apelo no blog http://​www.queselixeatroika15setem​bro.blogspot.pt/, adverte ainda que a manifestação de 15 de Setembro é pacífica. “As armas que levamos são as nossas vozes e a nossa presença. Não serão, pois, bem vindos ao protesto ou à página quaisquer apelos à violência. Na impossibilidade de darmos a esta página atenção permanente dada a concentração de esforços em sermos muitos milhares no próximo Sábado, demarcamo-nos de comentários notoriamente racistas, xenófobos ou fascistas assim como de perfis com o propósito de insultar os participantes”.
in jornal de negocios, 12.09.12

Siza Vieira: em Portugal, há a sensação de se viver “de novo em ditadura”

O arquitecto português Álvaro Siza Vieira afirmou que, “ultimamente”, a sensação em Portugal é de se viver “de novo em ditadura”, numa mensagem gravada para a 8.ª Bienal Ibero-Americana de Arquitectura e Urbanismo que decorre em Cádiz.

Na declaração divulgada nesta terça-feira, Siza Vieira, que se recusa a ser considerado um patriarca dos arquitectos, explica que está num constante processo de aprendizagem e que, “ultimamente” a aprendizagem “mais dura e mais forte” é assumir que, em Portugal, “se vive de novo em ditadura”. 
“Aqui [em Portugal] temos uma ditadura” que, “aparentemente”, prevê “uma negociação”, mas “onde não se vê essa negociação”, disse o arquitecto português, considerando que Espanha “pode estar próximo de uma situação semelhante”. Sobre o sector da arquitectura, Siza Vieira disse que, em Portugal, “em geral, se constrói mal e, apesar das regulações, parece não haver interesse em construir bem”. Siza Vieira aponta a arquitectura como exemplo para demonstrar a sua desconfiança na possibilidade de os dirigentes partidários tomarem decisões pensando no bem comum. “Quando uma cidade muda a composição política dominante, os projectos anteriores são recusados, a maior parte das vezes. Há um apetite de ruptura total que tem a ver com interesses e com processos de afirmação política. Creio que isso é muito prejudicial para a cidade”, conclui o Prémio Pritzker, a quem a Bienal de Veneza reconheceu a carreira, com a atribuição do Leão de Ouro, o prémio máximo, na abertura da edição em curso, no início deste mês.
in Publico 11.09.12 

Dom Januário diz que chegou a hora de os portugueses dizerem “Basta”:


D. Januário Torgal não poupa críticas às medidas de austeridade anunciadas sexta- -feira por Pedro Passos Coelho e acusa o primeiro-ministro de “insensibilidade” e “vilania”, sublinhando que o governo está a faltar à verdade ao introduzir o aumento da contribuição para a Segurança Social. “Antes de aceitar ser primeiro-ministro, Passos Coelho chumbou o PEC IV [Plano de Estabilidade e Crescimento] e disse ‘basta’ a mais impostos. E agora falha quando, segundo os especialistas, até existiam outros caminhos alternativos”, critica o bispo.
D. Januário espera que o Presidente da República possa ainda “salvar o país” e acredita que Cavaco Silva irá “chamar o governo à razão”. “Tem estado em silêncio, porque é do feitio dele manter-se em silêncio, mas alguém terá de travar isto e repensar estas medidas”, diz.
O bispo das Forças Armadas duvida, por outro lado, que a diminuição de 23,75% para 18% da contribuição das empresas possa gerar emprego, como invocou Passos Coelho na sua declaração ao país. “Não é com mais austeridade que se salva o país, pelo contrário”, defende o bispo, sublinhando que dentro do próprio PSD se têm erguido vozes discordantes nos últimos dias. “As críticas e os avisos têm vindo não só de economistas e especialistas, mas também de militantes do próprio partido do primeiro-ministro”, recorda, acrescentando: “Só fico admirado com o silêncio do CDS, porque Paulo Portas disse-se contra o aumento de impostos”.
“O que me escandaliza e mais me dói é que isto tudo é um castigo para quem tem menos e os que têm soberanamente mais não dão ajuda neste processo. Isto não é equidade nem justiça social”, considera o bispo. “Isto é um Portugal perdido, Portugal está completamente indefeso. Há corrupção moral, não há verdade nem ética”, continua.
D. Januário diz que chegou a hora de os portugueses dizerem “basta” e teme que a agitação social cresça. “Isto está a endurecer de dia para dia, sente-se um grande nervosismo na sociedade. Interrogo-me como é que as pessoas mais pobres e enfraquecidas vão conseguir lidar com todas estas medidas”. O bispo acrescenta que o que mais irritou os portugueses foi o timing escolhido pelo primeiro-ministro para anunciar mais austeridade. “Fazer um anúncio assim antes de um jogo de futebol da selecção nacional mostra uma habilidade que irrita, além de falta de frontalidade”, diz antes de criticar igualmente a mensagem que Passos Coelho deixou no Facebook, um dia depois de anunciar o aumento da contribuição para a Segurança Social: “As ideias debatem-se em diálogo aberto e não nas redes sociais”, remata.
in ionline, por Rosa Ramos, 10.09.12