terça-feira, 27 de novembro de 2012

'Só tem uma vida: desfrute!'


Atenção: depois de ler o livro A Arte de Não Amargar a Vida - Pensar Bem para Viver Melhor (Pergaminho) corre o risco de nunca mais ter desculpas para lamentações, dramatizações, «neuras» ou «depressões». O autor, Rafael Santandreu, explica-lhe porquê já a seguir.
Em Portugal, a depressão afecta vinte por cento da população e somos os maiores consumidores de psicofármacos da Europa. Tem alguma explicação para isto?
_A percentagem de deprimidos é semelhante em Espanha e no resto do Ocidente, o que sugere que o problema é, em grande parte, cultural. Explica-se pelo facto de padecermos daquilo a que chamonecessitite, que é confundir os nossos desejos com necessidades imperiosas: achamos que temos de casar, ter filhos, possuir casa própria, ser elegantes, bonitos, ter um bom emprego, uma vida emocionante, muitos amigos, ser extrovertidos, ter estudos, ter uma boa vida social, viajar... e mais dez mil coisas. De contrário, somos uns vermes que não merecem sair de debaixo da terra!
O que prescreveria então para baixar estes números?
_Muita educação em filosofia, psicologia e valores, sejam religiosos ou outros. Qualquer coisa menos a atual educação antivalores da televisão capitalista que acabará por enlouquecer-nos a todos.
Afirma que são os pensamentos negativos e o diálogo interior neles baseado que geram as emoções negativas que causam depressões, ansiedades e tristezas. Quanto mais se pensa pior é?
_Não. Pensar muito não é um problema, mas há que pensar bem. Se tem crenças irracionais que a tornam vulnerável a nível emocional, tem de as alterar. Ao fazê-lo, as emoções acompanhá-la-ão.
Considera que a força emocional e o diálogo interior correto se aprendem na infância. O que os pais podem fazer para que os filhos sejam adultos fortes e mentalmente sãos?
_Têm de lhes transmitir a filosofia das pessoas fortes. É preciso ensinar às crianças que necessitamos de muito pouco para estar bem, que a vida é para desfrutar e que se pode desfrutar esforçando-se. Que o valor das pessoas está na sua capacidade de amar e não nas suas habilidades ou capacidades. E outra coisa muito importante - que não lhes ensinamos atualmente -, o significado do verbo aguentar: «Eu aguento, tu aguentas, ele aguenta...» As crianças de hoje têm uma baixíssima tolerância à frustração.
Mas quando o mal está feito ainda há esperança. No seu livro começa por dizer que é possível mudar. Como?
_A mudança de caráter psicológico produz-se de forma rápida ou não se produz. Na minha consulta, em Barcelona, as terapias não duram mais que quatro ou cinco meses e são uma espécie de lavagem ao cérebro muito enérgica, com imensos trabalhos de casa: uma hora e meia diária, fins de semana incluídos. A mudança assemelha-se ao que acontece a uma pessoa que teve um acidente que a deixou entre a vida e a morte e diz: «Agora encaro a vida de outra forma.» É esse tipo de mudança de filosofia pessoal que se procura operar.
A ideia é que devemos relativizar e não dramatizar as coisas, de forma a que não se tornem um problema e não nos impeçam de desfrutar a vida. Dito assim parece simples. Porque é então tão difícil?
_Porque estamos imersos numa doença cultural chamada terribilitite. As pessoas contagiam-se umas às outras dizendo: «Será terrível se não tiver filhos ou namorado»; ou «será terrível se perder o emprego», etc. E realmente acreditamos que isso é «terrível» e não nos damos conta de que este diálogo interno provoca um medo vital. Deixamos de ser pessoas livres e passamos a ser escravos dos nossos medos. Se não souber como mudar e não fizer um esforço nesse sentido, é provável que acabe neurótico.
Como lhe perguntou uma paciente sua, não será isso um apelo ao conformismo? Se o homem se contentasse com a satisfação das necessidades básicas e não tivesse ambição e imaginação, teria evoluído?
_As pessoas sãs e fortes como Stephen Hawking, o cientista britânico em cadeira de rodas de quem falo no meu livro, têm muitos desejos e projetos. É natural. Mas não os convertem em necessidades imperiosas. Trabalham com alegria para os atingir, mas se não conseguirem não cometem arakiri, desfrutaram do processo e aprenderam com ele. Só podemos desfrutar daquilo de que podemos prescindir.
A «dramatização» é um processo muito enraizado nas culturas mediterrânicas como a portuguesa e a espanhola. Porquê?
_Não creio que seja exclusivo da nossa cultura, apenas nos expressamos mais abertamente do que os ingleses ou os dinamarqueses. A terribilitite é uma doença da opulência e afeta por igual todos os países supostamente desenvolvidos. Nos países pobres como a Índia ou o Ruanda, as pessoas não dramatizam. Têm outros problemas, mas não têm neuroses.
Como não dramatizar, então?
_Para deixar de dramatizar há que fazer uso da renúncia mental. Deve perguntar-se: «Preciso realmente do meu trabalho para ser feliz?» E a resposta deve ser «não». Deve argumentar a favor desta ideia até estar profundamente convencido e, então, poderá trabalhar em liberdade e desfrutar do seu trabalho. O mesmo para o namorado/a, marido/a ou qualquer coisa ou situação que o faça sofrer.
Sim, mas num contexto de crise como aquele em que vivemos, sejamos realistas, como é possível não ter medo de perder o emprego?
_É precisamente o medo de perder o emprego, de perder coisas materiais sem importância, que leva a que as pessoas se mantenham dependentes de um trabalho mal pago e aborrecido, escravizadas por um chefe psicopata. Se perdessem esse medo, existiriam muito mais empreendedores autónomos. Que se lixe o trabalho assalariado! Não morrerá de fome. Calma.
Defende que desfrutarmos do nosso trabalho e podermos fazê-lo ao nosso ritmo é o segredo do sucesso e da produtividade. Quer explicá-la aos patrões portugueses?
_Não. É algo que deve ser a pessoa a saber e ponto final. Os chefes terribilizam muito: é assim a sociedade louca que criámos, onde os loucos triunfam. Não se pode discutir razoavelmente com alguém louco; diga-lhe o que quer ouvir e desfrute do seu trabalho ao seu ritmo. A longo prazo converter-se-á no bem mais valioso da organização porque fará o seu trabalho divinamente e levará calma e alegria à empresa.
Qual o melhor método para ter uma filosofia de vida que nos permita ser mais felizes?
_Arrumar muito bem a cabeça. Tão bem que as crenças irracionais da nossa sociedade não a afetem. Deixar de exigir de si mesma, dos outros e da vida como um louco. E fazer esta mudança de filosofia de uma forma radical. Meias-tintas não valem.
Um dos grandes medos das pessoas é o medo da morte. Apresenta a consciência da morte e a meditação sobre ela como um dos mais importantes passos da terapia. Como?
_Meditando um pouco cada dia sobre o facto de que, dentro de algum tempo, cada um de nós vai estar morto ajuda a relativizar as coisas. Quando está stressado com alguma coisa, lembre-se de que irá morrer mais tarde ou mais cedo e que não vale a pena fazer tanto barulho por nada. Mas pense nisto com profundidade. Só então conseguirá tranquilizar-se.
Os medos são as principais causas de depressão: medo da morte, medo da solidão, medo da opinião dos outros, medo de perder o emprego e por aí fora. Como vencê-los?
_Bom, não é só o medo. A vergonha, por exemplo, também pode conduzir à depressão. Mas sim, é verdade que o medo é o rei das emoções negativas. Tem de ir eliminando todos os seus medos através da renúncia mental, de que já falei, e através da harmonização com a natureza e com o cosmo. Por exemplo, tem de entender que morrer é bom, que a morte é natural e, como tudo o que é natural, é bela. O problema seria não morrer.
Um capítulo fundamental para os leitores é o 13: «Melhorar as relações, incluindo as sentimentais». Como é possível seguir o seu conselho de nunca nos queixarmos, nem lamentarmos, nem exigirmos, simplesmente aceitarmos o outro como é, incondicionalmente?
_Também faço terapia de casal e os cônjuges, quando vêm à consulta, são um saco de acusações e queixas mútuas. Desperdiçam demasiado tempo exigindo coisas um ao outro e acreditando que a sua felicidade depende do outro... Erro crasso! A sua felicidade depende só de si. O outro é só um companheiro e não importa assim tanto o que faz ou deixa de fazer. Além disso, lamentar-se é a melhor forma de destruir uma relação.
Mas temos de aguentar tudo?
_Quase tudo (a violência física, não). Mas a questão é que para conseguirmos algumas mudanças no outro, devemos sugerir (ou seduzir) e não exigir. Se o fizermos sinceramente e com amor obtemos o dobro dos resultados. Com a vantagem de não amargarmos a vida.
Garante que com humor e com amor podemos viver felizes para sempre com aqueles que nos rodeiam?
_«Para sempre» e «com todos os que nos rodeiam» são palavras demasiado absolutas... Mas sim, o amor e o humor ajudam-nos a lidar com as pessoas difíceis e todos o somos às vezes. Quando a pessoa que tem ao seu lado terribiliza, tem de empregar o amor e o humor para arrancá-la desse registo negativo. Não tente falar do assunto, isso só piorará a situação. Diga-lhe coisas carinhosas e tente fazê-la rir.
Considera que a autoestima é sobrevalorizada. Ter uma autoestima forte não é importante?
_O importante é ter uma autoestima «normal», que se baseia em que todos valemos o mesmo: pobres e ricos; espertos e tontos; feios e bonitos... Todos somos iguais porque a única coisa que interessa é a nossa capacidade de amar e isso todos temos em potência. Os livros sobre a autoestima que dizem que «tu podes», que «és bonito», etc., são paranoicos. Estes valores não são importantes, não tem de lutar para se impor. Basta querer ser mais do que é!
Quais os principais obstáculos à terapia?
_Ter uma mente fechada. Eu digo aos meus pacientes que, se saírem das sessões a pensar «este psicólogo está mais louco do que eu» é porque estamos no bom caminho. As minhas ideias têm de chocar com as deles, necessariamente. Ter a humildade de pôr de lado convicções que nos acompanharam toda a vida não é fácil. Por isso, em mais do que uma ocasião tive de dizer a um paciente: «O que prefere - ter razão ou curar-se?»
BI
Rafael Santandreu é psicólogo, com consultório em Barcelona. Autor de Escuela de Felicidad e apologista da psicologia cognitiva, defende que se não exigirmos muito da vida, podemos ter tudo. E ser felizes.
in DN 27.11.12, por Catarina Pires

16 comentários:

  1. Estive a ler com atenção esta notícia e na minha opinião o aumento do desemprego que está previsto, vai fazer com que muitas pessoas fiquem deprimidas. É triste ver o nosso País, os nossos Portugueses em sofrimento.

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  2. Góis, além do desemprego no seio dos seus cidadãos, também apresenta outros problemas muito graves, principalmente a da educação.

    Não precisamos de professores faltosos que depois dão as matérias toda à pressa....!!!!

    Escola nos últimos lugares do ranking...Escola com péssimos resultados em quase todas as disciplinas....

    Quem são os burros????? Os alunos????
    Quem é responsável????

    Precisamos que alguém denuncie estes péssimos resultados...onde está o Varzeense...Qual o papel deste Jornal, na defesa dos cidadãos de Góis????

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  3. Há muitos alunos que têm os seus pais no desemprego, que neste momento têm dificuldades em pagar uma educação de qualidade aos seus filhos.

    É TEMPO DE MUDANÇA....
    ACABE-SE DE VEZ COM OS MAUS PROFISSIONAIS FALTOSOS!!!!

    Nesta escola há meninos com FOME e gasta-se dinheiro mal gasto em jantares????

    Sabemos que aqui na Escola de Góis, se justificam os maus resultados, dizendo que os alunos provêm de famílias carenciadas e pobres...vivem no meio rural...

    Outras vezes,justificam os maus resultados escolares no final do ano com os CRITÉRIOS de AVALIAÇÃO...!!! É Inaceitável...!!!

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  4. Tem toda a razão caro anómimo(a). Há que não calar a incompetência e desinteresse da maioria dos professores da escola de Góis. Ainda por cima pagos a peso de ouro, graças às dezenas de greves que fizeram.

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  5. Na vida podemos aceitar muita coisa....mas péssimos profissionais...NUNCA!!!!

    Quem paga com o mau profissionalismo destes professores são os nossos filhos e netos....É inaceitável...!!!

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  6. Há gente com muito mau gosto.
    Essa máquina propagandista do PS devia ser processada.

    http://www.eleicoesautarquicas.pt/category/concelhos/distrito-de-coimbra/gois/

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  7. Podemos não ter os melhores professores para os nossos filhos,mas temos os melhores e mais bem pagos diretores nas nossas instituições se não vejam só li num comentário neste blog que um diretor dos bombeiros ganha 2.500 euros é tudo á grande.

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  8. Estive a ver o site que referiu no penúltimo comentário.

    Então quem é que se candidata à Camâra de Góis, pelo PS? Pensei que era a mesma pessoa. Quem é o Paulo Girão?

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  9. http://www.eleicoesautarquicas.pt/category/concelhos/distrito-de-coimbra/gois/

    Eleições Autárquicas 2013

    PS de Góis propõe José Girão para presidente da Câmara

    27 de Novembro de 2012 Leave a comment

    José Girão será o candidato do Partido Socialista à presidência da Câmara Municipal de Góis, Distrito de Coimbra. Read More »

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  10. AHAHAHAHAHAHAH!!! Olha que se calhar nem está mal pensado! Acho que o homem, mesmo morto, ainda consegue fazer mais e melhor que aqueles três estarolas (Cinco!!!) que lá estão!!!
    Deixem descansar o Homem em paz, que enquanto por cá andou, teve de aturar muita besta!...

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  11. O cão do falecido sr. Girão sempre trabalha ou não na câmara? Ouvi dizer que sim...

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  12. Cão?... Comentários vergonhosos...

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  13. Os nossos Cabeçudos lá andam,com a Maria Papoila

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  14. excelente texto

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  15. A Maria Papoila e os Cabeçudos devem ver como estão as valetas da Estrada que liga Fonte Limpa até Pessegueiro.
    O mato e erva com 70 cm Altura.
    Mas todas as aldeias estão assim,o comes e bebes é o que está a dar.

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  16. Foste ao jantar a VNC, mas Pessegueiro pertence à Pampilhosa...

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