quarta-feira, 20 de abril de 2011

Acredita? José Sócrates à venda na internet

Num popular site de leilões, qual não é a surpresa ao encontrar, nada menos do que o primeiro-ministro, José Sócrates, à venda. O valor, 75 mil milhões de euros, o mesmo que a União Europeia considera adequado para «resgatar» Portugal.

O anúncio foi colocado esta terça-feira e termina daqui a 13 dias, por isso, quem estiver interessado tem de despachar-se. Isto é, se o preço não o dissuadir. Já a «qualidade» do «item» à venda é amplamente elogiada pela vendedora:

«Boa aparência, com guarda-fatos e teleponto incluído. Excelente marketeer, até garantir a venda de gelo no Pólo Norte ou areia na praia. Desenrascado, persistente e com boa imagem do lado esquerdo e lado direito. Licenciado com distinção num Domingo e boa capacidade para idiomas como o Castelhano e Inglês (apenas compreensão e leitura).Boa rede de contactos com políticos de vários países e extraordinária rede de contactos de amigos em Portugal. Muitos amigos. Aliás, amigos assim não se encontram em muitos países».E quem quiser saber mais, pode consultar «a biografia completa aqui: http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=285».



Mas então o que leva alguém a vender algo/alguém de tão comprovada qualidade? A vendedora, que diz ser do Porto, explica: «Liquidação do país (alternativa a empréstimo do FMI)».

Quem adquirir o primeiro-ministro pode pagar por transferência bancária, com portes de entrega gratuitos.

Apesar das qualidades anunciadas de José Sócrates, ao fim de algumas horas em leilão, ainda ninguém o licitou. Serão efeitos da crise?

in itv24, 19/04/11

sábado, 16 de abril de 2011

FMI. Redução de câmaras deve ser uma realidade

Na Grécia, a troika impôs uma redução do número de câmaras. PS vai ter no programa eleitoral a revisão do mapa administrativo

Reduzir o número de câmaras municipais e mexer na organização das empresas municipais são dois dos temas a estudar pela troika da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional como medidas de contrapartida à ajuda internacional a Portugal. A solução-padrão utilizada na Grécia - que passou de mais de mil autarquias para cerca de 300 - é uma possibilidade forte em Portugal e, para evitar mais cortes para as autarquias, a Associação Nacional de Municípios pediu para ser ouvida pelos enviados de Bruxelas a Portugal.

Acresce ainda que a revisão do mapa administrativo do país vai voltar a fazer parte do programa eleitoral do PS, pelo que o actual governo não criará muitos entraves a algumas mexidas. O debate já tinha sido levantado pelo governo de José Sócrates, a reboque das alterações na cidade de Lisboa, mas não chegou a sair do papel. "Estamos a falar, primeiro, de uma reestruturação do território a nível urbano, depois, das zonas de baixa densidade", explica ao i o secretário de Estado da Administração LocalJosé Junqueiro

O plano do governo não era tão ambicioso como aquele que pode ser aplicado pela troika e tinha como primeiro objectivo a redução de freguesias, mas quando questionado sobre se a reforma pode ser precipitada pelo FMI e ir mais longe, alcançando as câmaras, José Junqueiro diz que "há essa possibilidade", um pouco à semelhança do que aconteceu na Grécia. 

O governante insiste, no entanto, que nas zonas de pouca densidade populacional se trata primeiro de "associar freguesias", deixar de ter "vários executivos", e "ter apenas um presidente e uma assembleia".

Para travar mais cortes de verbas para as câmaras e a redução "cega" do próprio número de autarquias, Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios (ANMP), pediu para ser ouvido pela troika. "Queremos que os cortes sejam feitos onde são necessários, onde a gordura é grande", diz ao i.

Mas a ANMP não fecha a porta ao debate e Ruas admite que "há margem" para reduzir o número de câmaras municipais. A reforma pode juntar-se a outras, defende o autarca, como "por exemplo a redução dos deputados e o fim dos governos civis".

"Estamos interessados em dizer à troika que as câmaras nada têm a ver com o desequilíbrio das contas públicas. Não é nossa responsabilidade", assegura.

Ao debate sobre a redução de câmaras junta-se a regionalização. "Na Grécia a redução do número de câmaras foi acompanhada pela imposição de se avançar com a regionalização, tendo em vista um aumento da eficiência", diz Fernando Ruas. 

menos vereadores O plano do governo, com o qual José Sócrates venceu as eleições de 2009, não passava pela extinção de câmaras - à semelhança do que defenderá o programa do PS para as próximas eleições de 5 de Julho. As propostas socialistas passam antes por reestruturar o número de vereadores. "É necessário mexer na Lei Eleitoral Autárquica para introduzir os executivos autárquicos. Ou seja, o presidente da câmara passa a escolher o executivo, o que pode reduzir o número de vereadores", diz Junqueiro. Com as alterações pretendidas, as câmaras de nove vereadores passariam a ter sete e as câmaras com cinco teriam três. "No final podemos ter menos mil vereadores", conclui o responsável.

Ideia semelhante é defendida pelo PS para as empresa municipais. Para reduzir o peso das empresas afectas aos municípios nas contas do Estado pode vir a ser imposta a necessidade de mais cortes, começando pelo número de administradores. O governo esperava pelo resultado do grupo de trabalho sobre o funcionamento das empresas municipais liderado pelo presidente do Tribunal de Contas,Guilherme d'Oliveira Martins, para avançar com reformas. "A ideia do governo, caso não tivesse sido interrompido a meio, seria de concluir este trabalho já em 2011", justifica o secretário de Estado.
Com Ana Suspiro
in, ionline 16/04/11

quinta-feira, 14 de abril de 2011

“Não vai ser rápido, nem fácil”, diz director-geral do FMI

Dominique Strauss-Kahn afirmou que o processo em Portugal “não vai ser rápido, nem fácil”. As declarações foram feitas à TVI, à margem da reunião de Primavera do FMI.

“Nós preferimos ir pela via orçamental. É um processo mais longo, vai demorar mais tempo, mas é mais realista do que outros caminhos. Por isso, não estamos a pedir que seja feito em velocidade máxima”, explicou Strauss-Kahn.


O responsável do FMI notou ainda que “não é possível um país gastar mais do que tem durante muito tempo”. E disse ter sido isso “o que aconteceu em Portugal”.


“Não me cabe a mim atirar culpas para ninguém. Mas foi o que aconteceu e agora vocês têm que voltar a entrar nos eixos de uma forma ou de outra”, acrescentou.


Strauss-Kahn notou ainda que há muitos países da zona euro que, ao longo dos anos, conseguiram aumentar a competitividade – e "não apenas a Alemanha", frisou. “Não há nenhuma razão para que Portugal não o possa fazer”.
in, Público, 14/04/11

terça-feira, 12 de abril de 2011

FMI avisa: sem medidas adicionais, défice será maior este ano

Se o Governo não tomar medidas adicionais, no âmbito do pacote da ajuda externa que está a ser negociado, Portugal não conseguirá cumprir com a meta do défice prevista para este ano (4,6 por cento do PIB). De acordo com as previsões do FMI, o défice orçamental ficará nos 5,6 por cento.


No relatório “Fiscal Monitor”, que acaba de ser divulgado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que Portugal tenha, este ano, um défice superior em um ponto percentual ao previsto pelo Governo: 5,6 por cento do PIB, em vez de 4,6. 

De acordo com a instituição, a diferença face às projecções apresentadas pelo Executivo deve-se ao facto de as previsões do fundo não incorporarem as medidas de austeridade adicionais propostas a 11 de Março (chumbadas pelo Parlamento) e de se basear em “projecções macroeconómicas menos optimistas”.

No último Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), que foi chumbado na Assembleia da República, o Governo apontava para uma quebra do PIB de 0,9 por cento este ano, enquanto o FMI está a prever uma recessão de 1,5 por cento.

Além disso, o FMI salienta que estas projecções para o défice “foram preparadas antes de as autoridades portuguesas terem pedido ajuda externa”, o que quer dizer que as medidas adicionais de austeridade necessárias para atingir aquela meta deverão resultar das negociações entre o Governo e as equipas da União Europeia e do FMI.

De acordo com a instituição liderada por Strauss Kahn, o esforço de consolidação orçamental que será exigido a Portugal é o quarto maior da zona euro, só superado pela Irlanda, Grécia e Espanha. Desde 2010 e até 2020, Portugal terá de proceder a um ajustamento equivalente a 6,4 por cento do PIB. A Irlanda é aquela onde o esforço será maior (12,4 por cento), seguindo-se a Grécia (10,5 por cento) e a Espanha (8,2 por cento).

Consolidação orçamental na economia mundial está atrasada

No relatório Fiscal Monitor, o FMI avisa que “os riscos à sustentabilidade orçamental permanecem elevados, visto que o progresso em algumas regiões foi ofuscado pelos atrasos na consolidação em outras regiões”.

De acordo com a instituição, a maioria das economias avançadas estão já a reduzir os seus défices este ano, mas os Estados Unidos puseram o ajustamento orçamental em espera, enquanto o Japão será obrigado a adiar a consolidação, devido aos custos financeiros que o país terá na sequência do terramoto.

O FMI avisa que, actualmente, os rácios de dívida estão a aumentar na maioria das economias avançadas e que as necessidades de financiamento estão em níveis históricos. O Japão é o país com maiores necessidades de financiamento em 2011, o equivalente a 56 por cento do PIB. Seguem-se os EUA, a Grécia, a Itália, a Bélgica e Portugal, que é o sexto país mais necessitado de ir buscar dinheiro.

Mas não é só nas economias avançadas que a consolidação orçamental é necessária. De acordo com o FMI, o cenário nestes países caracteriza-se, actualmente, por preços elevados das matérias-primas e dos activos, taxas de juro baixas e elevado fluxo de capitais, condições que, se deixarem de existir, poderão deixar alguns países expostos do ponto de vista orçamental.

Além disso, a instituição destaca que algumas economias emergentes correm o risco de sobreaquecimento, o que leva o FMI a recomendar que aproveitem os ganhos associados às actuais condições favoráveis para criar margem de manobra orçamental, e não para aumentar os gastos públicos.
in, Público 12/04/11

Carrilho diz que congresso do PS foi a cassete de Sócrates


O socialista Manuel Maria Carrilho viu o Congresso do PS do passado fim-de-semana como o congresso da “cassete de Sócrates” de onde “não saiu uma única ideia.

No seu comentário semanal na TVI24, Carrilho voltou a repetir a ideia de José Sócrates “construiu uma história em que ele [Sócrates] é o herói” e que foi ao congresso “transformar a boa história numa cassete.”

“Não houve uma única ideia no congresso”, acrescentou Carrilho, que não foi à reunião socialista. “Foi como se todos os socialistas assumissem o teleponto de Sócrates.”


Carrilho salientou ainda que o PS “vai avançar para as eleições sem programa” e em que José Sócrates se apresenta “como um cartão de crédito”.



Sobre a escolha de Ferro Rodrigues para cabeça de lista em Lisboa nas eleições legislativas de 5 de Junho, Carrilho considerou ser “um bom candidato”, já que é um homem que “representa as preocupações de esquerda do PS”. 
in Público, 12/04/11

domingo, 10 de abril de 2011

José Mário Branco - FMI (1982)

Numa altura em que discute a (re)entrada do FMI em Portugal, vale a pena recordar um excerto da obra de José Mário Branco que, composta há quase 30 anos, não deixa de ser tão actual e pertinente. É certamente uma das melhores canções de intervenção produzidas em Portugal. A quem puder, sugere-se que oiça a versão completa da música, com mais de 23 minutos de duração, mas que vale a pena ouvir com atenção a letra bastante crítica em relação ao Fundo Monetário Internacional.

Sócrates já tinha preparado pedido de ajuda quando negociou PEC

O primeiro-ministro já tinha preparado o pedido de ajuda à UE e ao BCE quando se comprometeu em Bruxelas a avançar com novas medidas de austeridade.
Quando José Sócrates assinou em Bruxelas, no passado dia 11 de Março, o acordo com as medidas do PEC 4 ficou também estabelecido que a esse acordo se seguiria um pedido de ajuda externa a Portugal no valor de 80 mil milhões de euros, apurou o SOL junto de elementos da Comissão Europeia (CE) envolvidos nas negociações.
O compromisso assumido pelo primeiro-ministro português com o Banco Central Europeu (BCE), a CE e o grupo Euro começou a ser negociado no final de Fevereiro e passou pelo encontro, a 2 de Março, em Berlim, de Sócrates e Teixeira dos Santos com a chanceler alemã Angela Merkel.
As crescentes dificuldades de financiamento do Estado português e, em particular, da banca colocaram como inevitável a antecipação das medidas do PEC 4 e a definição de um pacote de ajuda externa a curto prazo.
O próprio presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, viria a confirmar publicamente, dias depois, que considerava «apropriado um resgate a Portugal» num valor próximo dos «75 mil milhões de euros».

O bluff...

O anúncio das medidas do PEC 4, no mesmo dia 11 de Março em que foi oficializado em Bruxelas, apanhou o país de surpresa. E deixou antever - pela forma como o primeiro-ministro marginalizou ostensivamente o PR e a Oposição do processo - que dificilmente o PEC 4 recolheria o imprescindível apoio maioritário na AR. E que estava próxima a abertura da crise política.
Ciente de que a negociação do PEC 4 tinha implícito, num segundo momento, o pedido a Bruxelas da ajuda de 80 mil milhões de euros, Sócrates apostou tudo no bluff político e na estratégia de ruptura que permitisse culpabilizar a Oposição, e em especial o PSD, pela queda do Governo e pelo recurso à ajuda financeira da Europa.
Luís Gonçalves
in Sol, 8/04/11

sábado, 9 de abril de 2011

O Caso Islandês silenciado... DEVEM TODOS LER E PASSAR, É UMA LIÇÃO QUE OS PORTUGUESES DEVIAM APRENDER

(Estamos neste estado lamentável por causa da corrupção interna – pública e privada com incidência no sector bancário – e pelos juros usurários que a Banca Europeia nos cobra.
Sócrates foi dizer à Sra. Merkle – a chanceler do Euro – que já tínhamos tapado os buracos das fraudes e que, se fosse preciso, nos punha a pão e água para pagar os juros ao valor que ela quisesse.
Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na forma como este país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa gente que se fale dele.
Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise.
Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.
Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.
A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas “macaquices” bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar).
País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria.
Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal “ajuda” ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para “tapar” o buraco do principal Banco islandês.
Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.
O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI.
Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.
Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.
Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.
Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não “estragar” os serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado.
As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.
Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.
O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas. Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.
Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos.
Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo.
O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.
Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o tempo que levei a escrever este artigo.
Por Francisco Gouveia, Eng.º
gouveiafrancisco@hotmail.com

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Entrevista de Henrique Neto a Anabela Mota Ribeiro no "Jornal Económico"


Uma vez, fui a um debate em Peniche, conhecia o Sócrates de vista. Isto antes do Governo Guterres. Não sabia muito de ambiente, mas tinha lido umas coisas, tinha formado a minha opinião. O Sócrates começou a falar e pensei: “Este gajo não percebe nada disto”. Mas ele falava com aquela propriedade com que ainda hoje fala, sobre aquilo de que não sabe. Eu, que nunca tinha ouvido o homem falar, pensei: “Este gajo é um aldrabão, é um vendedor de automóveis. Ainda hoje lhe chamo vendedor de automóveis".

"Quando se pôs a hipótese de ele vir a ser secretário-geral do PS, achei uma coisa indescritível. Era a selecção pela falta de qualidade. O PS tem muita gente de qualidade. Sempre achei que o PS entregue a um tipo como o
Sócrates só podia dar asneira".

"Gosto muito de Portugal – se tiver uma paixão é Portugal – e não gosto de ninguém que dê cabo dele. O Sócrates está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto. Entre o mal que faz e o bem que faz, com o Sócrates, a relação é desastrada".

"Há caras de que gostamos mais e outras menos, mas não me pesa assim tanto. Além do facto de que estou convencido de que ele não é sério, também noutros campos. Conheci a vida privada do Sócrates, ele casou com uma moça de Leiria, de quem conheço a família. Sou amigo do pai dela, que foi o meu arquitecto para a casa de São Pedro de Moel. Esta pequena decoração que vê aqui [em casa] foi feita pela cunhada do Sócrates. Às vezes compro umas pinturas que a mãe delas faz. Nunca fui próximo da família, mas tenho boas relações. Não mereciam o Sócrates. Portanto, sei quem é o Sócrates num ambiente familiar. Sei que é um indivíduo que teve uma infância complicada, que é inseguro por força disso, que cobre a sua insegurança com a arrogância e com aquelas crispações. Mas um País não pode sofrer de coisas dessas".

"Escrevi uma carta ao Guterres, que foi publicada, em que lhe disse coisas que digo do Sócrates. Era deputado quando escrevi a carta, era da comissão política do Partido Socialista. Foi na fase de Pina Moura e daqueles descalabros todos. Na comissão política, estão publicadas algumas dessas coisas, [sobre] os negócios do Jorge Coelho e do Pina Moura. Depois de ter falado disso tudo em duas ou três reuniões e não ter acontecido nada, escrevi uma carta e mandei ao Guterres. Ele distribuiu a carta. No outro dia veio nos jornais. Era uma carta duríssima. Os problemas eram os mesmos, estávamos a caminhar mal, estávamos a enganar os portugueses, a dizer que a economia estava na maior, quando não era verdade. Na altura já falava com o Medina Carreira e ele já falava comigo".

"Quando o Pina Moura foi ministro das Finanças, uma senhora das Finanças instalou-se lá na empresa. Nunca contei isto. Encontrava-a no elevador, nunca falei com ela, “bom dia Sra. Dr.a.”. Mas os meus homens contavam-me. Andou à procura, à procura, à procura como uma doida. Esteve lá alguns dois anos. As coisas não são impunes, a gente paga-as neste mundo. Disse o que quis do Pina Moura, da maioria desses gajos; era natural que se defendessem. Os seus colegas jornalistas muitas vezes foram ao Pina Moura com o que eu disse; e ele: “Não comento”. O Guterres também não comentava, e o Sócrates também não comenta. Aliás, quando faço uma intervenção ao pé dele fica histérico, não me pergunte porquê".

1"Estudei um pouco da história portuguesa, nomeadamente dos Descobrimentos; fizemos erros absurdos. Um dos erros é deixarmo-nos enganar, ou pelos interesses, ou pela burrice. O poder, os interesses e a burrice é explosivo. Descambámos no Sócrates, que tem exactamente estas três qualidades, ou defeitos: autoridade, poder, ignorância. E fala mentira. Somos um País que devia usar a inteligência e o debate para resolver os problemas, e temos dirigentes que utilizam a mentira e evitam o debate".

"A última comissão política do PS foi feita no dia em que o Sócrates anunciou estas medidas todas. Convocou a comissão política depois de sair da conferência de imprensa, para o mesmo dia, à última da hora, para ninguém ir preparado – primeira questão. Segunda questão, organizou o grupo dos seus fiéis para fazer intervenções umas a seguir às outras, a apoiar, para que não houvesse vozes discordantes. A ideia dele era que o Partido Socialista apoiasse as medidas. Fez medidas tramadas, toda a gente sabe. O mínimo era que o partido as apoiasse. Mas não falou antes. Depois o Almeida Santos fez aquilo que faz sempre: uma pessoa pode inscrever-se primeiro, mas o Almeida Santos só dá a palavra a quem acha. Os que acha que vão dizer o que não quer que digam, só vêm no fim. E no fim: “Isto está tarde, está na hora de jantar”. Isto é uma máfia que ganhou experiência na maçonaria. O Arq. Fava é maçónico, o Sócrates entrou por essa via, e os outros todos. Até o Procurador-Geral da República. Utiliza-se depois as técnicas da maçonaria – não é a maçonaria – para controlar a sua verdade. Os sucessivos governos, este em particular, pintam uma imagem cor-de-rosa da economia portuguesa. Isto é enganar as pessoas sistematicamente.

Depois aparecem críticos como o Medina Carreira ou eu a chamar a atenção para a realidade do País – chamam-nos miserabilistas! E quando podem exercem pressão nos lugares onde estão esses críticos e se puderem impedir a sua promoção ou acesso aos meios de informação, não hesitam. Isto era o que se passava antes do 25 de Abril, agora passa-se em liberdade, condicionando as pessoas, e usando o medo que têm de perder o emprego. José Sócrates, na última Comissão Política do PS, defendeu a necessidade das severas medidas assumidas pelo Governo, mas também disse que era muito difícil cortar na despesa do Estado porque a base de apoio do PS está na Administração Pública. Disse-o lá, e pediu para isso a compreensão dos presentes. Não tenho nada contra José Sócrates. Se ele se limitasse a ser um vendedor de automóveis, ser-me ia indiferente. Mas ele é o primeiro-ministro e está a dar cabo do meu País. Não é o único, mas é o mais importante de todos".
in, http://m.friendfeed-media.com/b2865a0060a05f9db96052abe3c3379a8ef0a13c

SERÁ QUE SOU BURRO?

        Ontem, levei o meu dono à feira de Pedrógão. Fomos lá comprar umas hortaliças para plantar. Claro que o meu dono bebeu uns tintos e dormiu toda a viagem de regresso. Demos boleia ao Ti Armando e lá fomos os três. Claro que não se calaram durante a viagem (de ida…) e eu, lá fui ouvindo as conversas deles e tirando as minhas conclusões. Dizia o meu dono:
         -Então, Armando, o Socras lá caiu. Achas que com o Coelho ficamos melhor?
         - Caiu não, demitiu-se. Se ficamos melhor, não sei. Mas, pelo menos, as moscas são outras…
         - Isso também acho. Aliás com o Paulinho das Feiras pode ser que isto melhore. Porra, que o gajo fala bem. O pior é se compra mais daqueles barcos de andar por baixo de água. Como é que aquilo se chama?
         - Somarinos, pá. Parecem supositórios…
         Aqui, apeteceu-me dar três coices na carroça. Depois, o burro sou eu… Mas eles lá continuaram:
         - Toinho tu percebes aquela coisa do défice? Achas que vai ser como no tempo da guerra? Vai haver bancarrota?
         - Isso do défice também não percebo. O Governo está todo contente e diz que foi de 6,8. A oposição inverte os números e diz que são 8,; os bancos reúnem-se e decidem não emprestar mais dinheiro a Portugal e nós, Zé Povinho, encolhemos os ombros e já rimos com todas as mentiras que nos pregam. Em Portugal tem que se criar um “dia sem mentiras”. Até pode ser o 1º de Abril…
         - Mas, nesse dia o Governo não pode falar. Não se podem entrevistar os putos da Casa Pia que cada dia dizem sua coisa, não se pode falar no Armando Vara que recebeu 322 000€ para não fazer nada, para além de umas caixas de robalos, nem do Ministro da Justiça que não sabia que a mulher tinha recebido indevidamente 72 000 euros, pagos pelo seu ministério e tendo ele delegado competências no Secretário de Estado para permitir essa trafulhice. Nem do o Administrador dos CTT que se demitiu porque parece que, como os outros, também não tinha tirado o curso e já era doutor. Sabes, aquele que era sócio do nosso vizinho e que foi nomeado por ele: o Paulo Campos.
         Bem, eu nem vos conto aquilo que eles disseram. No reino dos irracionais, não se passa nada disso. Mas será que o engenho e a arte dos ditos racionais só servem, pelo menos em Portugal, para a trafulhice?
         Regressámos à quinta já o Sol ia alto. O meu dono e o Ti Armando almoçaram na feira e eu tive de me contentar com umas capas que um puto me deu quando me viu amarrado a uma árvore. Já estou habituado. Desta vez não vim muito carregado pois era quase tudo plantas para a horta. É pior quando tenho de levar o milho ao moinho e, no regresso, carregado com os sacos de farinha. No entanto, ainda demos boleia à Maria da Derreada Cimeira e lá a deixamos sentada na Picha a beber uma Coca-Cola. Fartaram-se gozar com ela por causa dos nomes das terras, mas eu não percebi nada…
         Já que falei da Quinta, lembrei-me que já há muito tempo não vos conto as novidades. Como sabem, ela mudou de dono há já algum tempo e está muito diferente. Foi toda pintada, as cercas todas reparadas, os currais aumentados, parece outra. O ambiente é que não é o melhor. Arranjaram um coordenador para cada instalação: uma galinha para o galinheiro que também superintende nos patos e nas fracas (que continuam a falar, a falar, mas a não fazer nada…); Um touro para a vacaria mas, aqui para nós, ele parece mais um boi que um touro (espero que saibam a diferença: o touro tem a voz mais grossa e faz aquilo que o boi não é capaz. É assim uma espécie de vaca, sem úbere.); Puseram também um bode a coordenar as cabras e ovelhas, mas aí o problema tem sido mais grave. Sabem, nós temos lá umas cabras que vieram de fora e é só vê-las: cascos encerados, pelo arranjado e escovado à maneira, enfim umas cabras citadinas. É que nem mesmo a palha e erva de cá lhes serve. Trazem-na de casa, as parvas, como se fosse melhor que a nossa. O problema é que, depois, não fazem nada. Até os queijos que a minha dona faz já não sabem a cabra, sabem a Madame Rochas que é um perfume qualquer que elas usam. Enfim, umas pirosas.
         Como compreendem, o ambiente, que dantes era bom, começa a estragar-se e até casais que pareciam estar a dar-se bem, começam a separar-se e a cruzarem-se entre eles. Já não estranho se nascer alguma ovelha com cornos de vaca ou uma galinha com bico de pato.
         Também tem havido problemas com os coordenadores que dizem andarem a espiolhar os outros e que vão contar tudo ao meu dono. E parece que o malhadiço é o pior. Não sei se isto vai acabar bem e qualquer dia aparece um com uma pata ao peito. Desde que não me toque a mim…
         Eu cá continuo com o malhadiço, o meu secretário. Claro que, como eu vos disse no outro dia, o gajo não sabe fazer nada. É aquilo que vocês chamam, um cromo. É de tal maneira que o meu dono o mandou estudar. É dele que apresento a fotografia acima. Já viram como anda bem vestido? Ainda há-de ser doutor. Digo doutor e não engenheiro porque ele não pode tirar o curso ao fim de semana, como o outro: este tem de ajudar nas feiras, e também já transporta a farinha do moinho e leva o meu dono a passear. Espero que não me ponham nos disponíveis com fizeram aos funcionários públicos. Tem uma vantagem pois, como podem ver na fotografia, é ele que, agora carrega o meu dono e eu sempre alivio as cruzes (eu sou o da vossa direita)…
         Vou ficar por aqui. Tenho de me ir vestir para levar o meu dono a receber o Secretário de Estado das Florestas. O meu dono recebeu uma mensagem e se não for, cortam-lhe o subsídio das cabras. Temos de levar a albarda cor de laranja. Não, não é por isso…é para parecer que somos da Protecção Civil…
                                                                                     (O Jumento)
jumentodegois@gmail.com

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Portugal - E Agora? (artigo muito bom de opinião internacional)

Depois de o primeiro-ministro José Sócrates apresentar a sua demissão ao presidente Aníbal Silva na quarta-feira, a media portuguesa aponta para uma nova eleição legislativa no final de Maio. No entanto, esta não é a única opção aberta ao presidente. Depois de décadas de má gestão, a realidade bate na porta de Portugal. O quê acontece agora?



Se você construir uma casa de papelão na areia e sem alicerces sólidas, e em seguida, jogue fora as poucas pedras que utilizou para fixar a estrutura ao solo, é natural que ela colapse com a primeira rajada de vento, as primeiras gotas de chuva, a menor pressão de dentro. Como a casa de papelão chamada Portugal sobreviveu a 37 anos desde a Revolução de 1974, é talvez um comentário sobre a resistência deste povo, que parece fazer milagres no seu "desenrascanço". Desta vez, porém, nem mesmo Houdini escaparia.


Hoje, a realidade bate na cara de Portugal. Quem tem a culpa? É óbvio: para começar, essas forças políticas que ocupam posições de controle desde 1974 (ou seja, o PSD - Social-Democratas e PS - Partido "Socialista", ambos de centro-direita nos dias de hoje, por vezes, em coligação com o CDS-PP - Democratas-Cristãos - conservadores) e, principalmente, a equipe do então primeiro-ministro e agora presidente, Aníbal Silva, por cujas mãos bilhões e bilhões derramaram e se derreteram e que nem demonstrou a capacidade, nem a visão, de saber investir esse dinheiro de forma adequada para que Portugal superasse o desafio.

Se a culpa é inteiramente dele ou não, é aberto a discussão. Que a responsabilidade é sua, não tenhamos dúvidas. Foi ele que estava no executivo do país durante a década a seguir à adesão à CE. Mas...Portugal estava realmente preparado para entrar na Comunidade Europeia em 1986? Portugal estava realmente preparado para entrar na zona Euro em 1999? Portugal estava preparado para enfrentar os desafios dos critérios de convergência nos anos seguintes? Será que a UE realmente funciona? O Governo de Portugal tem margem de manobra? Ou Bruxelas tem mais?



Ao longo dos anos, os sucessivos Governos portugueses receberam rios de dinheiro que, agora é óbvio, foi abominavelmente mal gerido. Na adesão à UE as cidades recebem uma injecção de dinheiro que, em poucos anos, fizeram a ponte que há décadas tinha separada Portugal do resto da Europa. Há trinta anos atrás, os portugueses se descreveram como "cinquenta anos atrás" do resto da Europa. Hoje, Lisboa é uma cidade capital moderna, com equipamentos tão modernos, ou mais, do que seus pares. Porto, Coimbra, Faro, Aveiro e outras cidades não ficam para trás.


Mas os mesmos governos venderam a indústria portuguesa pelo rio abaixo, destruíram a agricultura portuguesa e perderam direitos de pesca. Portugal, com uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas do mundo, não tirou partido dos seus recursos, principalmente porque foram esses recursos foram vendidos ... ou simplesmente perdidos. Não é, portanto, surpreendente que os jovens de hoje sintam que não há empregos para eles?

Eles têm razão. Os postos de trabalho foram destruídos. A grande manifestação de algumas semanas atrás em Portugal pela geração de jovens (e outros membros mais velhos da sociedade) foi uma onda de revolta não necessariamente contra o Governo de José Sócrates, mas um tsunami de frustração contra a governação abominável desde 1974.



Onde é que Sócrates deu errado?


Como ministro do Meio Ambiente (1999-2002), José Sócrates escreveu seu currículo como um candidato para o cargo de futuro Primeiro-Ministro. Ele mostrou competência, determinação, visão e inteligência. No entanto, essa determinação estava prestes a tornar-se em arrogância e falta de transparência, à medida que uma nuvem crescente de acusações ( que nunca alcançaram os tribunais) apareceu por cima dele e as pessoas que as fizeram se sentiram ameaçadas. Alguns foram mesmo expulsos de seus empregos por se atreverem a criticá-lo. É verdade que seu governo teve de enfrentar a crise financeira e económica quando o modelo capitalista dos mercados pulou de desastre para catástrofe e também é verdade, que havia forças na comunidade internacional mordendo os calcanhares de Portugal há mais de um ano.

Para alguns, a idéia de uma crise portuguesa é muito atraente. Próxima parada, Espanha e POP! vai o euro.



Na política, não é necessariamente o que você faz, mas como você é percebido ao fazê-lo, que escreve o seu epitáfio. A recente decisão de reduzir o IVA sobre o golfe, quando o orçamento familiar em alimentos está empurrando mesmo a classe média ao ponto de ruptura - e se as taxas de juros subirem, haverá uma calamidade pública em Portugal - foi talvez o sintoma e não a causa. O facto de o Governo de José Sócrates ter de introduzir três orçamentos de austeridade especiais (Programa de Estabilidade e Crescimento, PEC) nos últimos meses, cada um mais punitivo do que o último, antes de apresentar o PEC IV ao Parlamento na quarta-feira, deu sinais, de que nem o Primeiro-Ministro nem o Governo sabiam o que estavam fazendo, a contestação nas ruas e uma continuação dos desanimadores indicadores socioeconómicos que viram Portugal deslizar na classificação de desenvolvimento da UE.
Em cada pacote de austeridade, o Governo alegou que as medidas seriam suficientes para alcançar os objetivos - ainda que as medidas tenham sido também extremamente injustas socialmente e refletissem políticas que só poderiam ser negativas para o desenvolvimento da economia. Se compararmos as políticas socialmente progressistas apresentadas pelos governos realmente Socialistas da América Latina, que evitaram a crise económica, com as políticas reaccionárias e repressivas adotadas na Europa (incluindo pelo Governo de José Sócrates) e o tremendo impacto social que envolveram, então nós temos a resposta para as perguntas.

O futuro


Por mais estranho que possa parecer, não há muitos meios de comunicação em Portugal a postularem uma possibilidade real - ou seja, que em vez de chamar uma outra eleição legislativa (a última foi em 2009), presidente Silva tem o poder de nomear um Governo de Unidade Nacional. A primeira opção, sem dúvida, resultaria em um outro governo minoritário, com José Sócrates de novo líder do Partido Socialista, alegando que a oposição foi irresponsável em não aceitar o seu pacote de emergência em um momento tão delicado e explorar a inexperiência de Pedro Coelho, o líder do maior partido da oposição, o PSD.

Os pequenos partidos com lugares no Parlamento (CDS-PP, CDU - Comunistas e Verdes e Bloco de Esquerda) e outros, sem representação, poderão conseguir captar mais votos, mas o resultado seria mais uma vez o português a bater a cabeça contra as mesmas duas paredes esperando que, finalmente, algo poderia acontecer. Se não aconteceu durante 37 anos ...

A segunda opção poderia funcionar melhor se o presidente Silva tivesse a inteligência emocional para nomear um Governo - e mais importante, uma figura, em torno da qual um consenso nacional poderia ser formado. Ele seria, porém, mais propenso a escolher uma figura do passado e com firmes ligações com o seu partido, o PSD. Vamos no entanto seguir o exemplo dos media portugueses e colocar esta opção em segundo plano.

Quanto ao que acontece em seguida, seja qual for o caso, nada vai fazer qualquer diferença, até que Portugal finalmente aprenda a enfrentar e resolver os seus pontos fracos.

Unidade, humildade, responsabilidade, transparência - e acabar com os lobbies
O que os portugueses precisam fazer, coisa de que até agora têm sido incapazes, é ter a capacidade de se sentarem juntos e elaborarem um plano nacional, a curto e médio prazo, pelo menos, o que ultrapasse e vá além dos caprichos cosméticos da política partidária mesquinha. O que Portugal precisa é estabelecer parâmetros de referência, após ampla consulta com todos os envolvidos e, em seguida, acompanhar e certificar-se que esses parâmetros estão sendo seguidos.

O que Portugal precisa é varrer os milhares de sanguessugas que sugam o país seco, gravitando em torno das posições de poder e controle - um exército de barões invisíveis,  opacos e cinzentos, que ganham a vida à custa do resto do país. Esses são os lobbies, esses são os boys para os quais os trabalhos estão reservados.

O que Portugal precisa é mostrar mais humildade, e isso vem com a aceitação de responsabilidade. Isso, por sua vez, passa pela necessidade de criar descrições de cargos de trabalho devidamente elaboradas para que não só as pessoas saibam o que devem fazer, como também poderem ser responsabilizadas se não cumprirem as suas obrigações. Isto também significa que se alguma pobre criança pressionar um botão na rua e ficar com o cérebro frito em plena via pública, o sistema não vá empurrar os pais  de tribunal em tribunal durante anos e, em seguida, arquivar o caso porque prescreveu; e também significaria que   
seria eliminado o "cenário de ping-pong português", no qual uma pessoa que tenta legalizar algo, ou lançar alguma firma, passa dias, semanas ou meses a ser enviado de departamento em departamento e depois para outro, cada um dizendo "não é aqui onde você deveria estar" ou "Deram-lhe a letra M? Está aqui há 9 horas? Mas você deveria ter a letra D! Volte amanhã!"

Responsabilidade e descrições de postos de trabalho significam também uma ética de trabalho diferente, em que a produtividade inata do português (excelentes trabalhadores no estrangeiro, mas improdutivos em casa) poderia florescer - maior responsabilidade, maior liberdade,  através do cumprimento das suas tarefas de acordo com a descrição do posto de trabalho dentro da horário estipulado, deixar o trabalho na hora certa, como em outros países, e ter algo chamado "uma vida" fora do escritório. Isso implica ter uma vida familiar/de casa e desfrutar de momentos de lazer, por sua vez alimentando a criação de empregos, não pairar em torno do trabalho até meia-noite, porque "fica bem" perante algum falhado controlador, sem vida própria para viver.


Transparência é a última qualidade que falta em Portugal. Qual é o estado real das finanças públicas? Porque é que ninguém explica isso claramente ao povo? Porque é que ninguém adota a postura de um professor com um quadro e giz, por exemplo, e diz claramente onde o país está e onde precisa de ir? Transparência significa conhecer o currículo de todos os que ocupam cargos públicos, aqueles que lideram instituições - quem são e quais são as suas competências.

Tradicionalmente, Portugal provou ser incapaz de fazer frente a estas limitações - a reação às críticas, especialmente quando são proferidas por estrangeiros, é agressiva e defensiva e há até uma frase em português, "Quem não está bem, que se mude" - basicamente isso é uma desculpa para continuar cometendo os mesmos erros e continuar a fazer o mínimo esforço.
O tempo para varrer a sujeira por debaixo do tapete passou,  é tempo para escutar e agir. A casa de papelão apodreceu. E a tempestade está vindo
Portugal, é agora ou nunca!
Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru
in,http://port.pravda.ru/

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sócrates: Portugal já pediu ajuda a Bruxelas


O primeiro-ministro confirma que o Governo decidiu hoje dirigir um pedido de assistência financeira à Comissão Europeia. José Sócrates afirmou ter dado conhecimento ao Presidente da República, para que faça as diligências necessárias junto dos partidos para assegurar um entendimento sobre o pedido de socorro.

Sócrates dirigiu-se ao país ao início da noite
“Avaliadas todas as alternativas” e feitos contactos, “especialmente no dia de hoje”, o executivo enviou um pedido de ajuda à Comissão Europeia, disse Sócrates numa declaração no fim do Conselho de Ministros extraordinário convocado para o final da tarde, em São Bento.

Sócrates garantiu ter informado Cavaco Silva da decisão, que, sublinhou, foi tomada tendo em conta “as limitações constitucionais do Governo, como Governo de gestão”.

A abertura de crise política diminuiu “a capacidade do Governo de responder às dificuldades” e “não tomar essa decisão [o pedido de ajuda] acarretaria riscos que o país não deve correr”, justificou José Sócrates. Um “último recurso”, nas palavras do primeiro-ministro, que o comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, considerou entretanto ser uma medida “responsável”.


A dificuldade de Portugal em aceder “em condições de normalidade” ao financiamento dos mercados de crédito internacionais desde o chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (o chamado PEC IV) tornou-se “uma ameaça real” ao financiamento do Estado, do sistema bancário e da economia nacional, admitiu.


E o agravamento atingiu esta quarta-feira o limite, defendeu. “As taxas de juro que se verificaram hoje mesmo na emissão de dívida pública de curto prazo são um sinal claro da crescente dificuldade” do país em aceder ao financiamento nos mercados.


“Espero que a negociação deste pedido de ajuda” – o terceiro solicitado por um membro da zona euro, a seguir à Grécia e à Irlanda – “tenha os menores custos possíveis para Portugal e os portugueses”, sublinhou José Sócrates.


Sinais foram surgindo ao longo do dia

As declarações de José Sócrates foram a confirmação do que podia ser entendido após as declarações de Teixeira dos Santos ao Jornal de Negócios, do cenário admitido por Jorge Lacão hoje no Parlamento e do que já falara o líder parlamentar, Francisco Assis.

Numa resposta por escrito ao jornal, o ministro das Finanças admitiu hoje ser “necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu”, face à actual situação “muito difícil nos mercados financeiros”.

Pouco depois, Bruxelas garantia não ter recebido qualquer pedido formal de socorro por parte de Portugal. Amadeu Altafaj, porta-voz da Comissão Europeia para os assuntos económicos e financeiros, esclareceu que teve conhecimento das declarações de Teixeira dos Santos pela imprensa. E sublinhou que existem instrumentos de ajuda operacionais, referindo-se ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês – e especificamente orientado para os países da zona euro) e ao Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSM).

José Sócrates sempre negou estar a ser negociado um pedido de ajuda externa e repetiu-o hoje, negando a notícia de manchete do diário Financial Times, de que Lisboa já estava a negociar com Bruxelas uma ajuda intercalar.

O pedido de ajuda imediato a que se têm referido nos últimos dias os banqueiros portugueses – primeiro, Carlos Santos Ferreira, presidente do BCP, e, ontem, Ricardo Salgado, do BES – é um empréstimo intercalar de curto prazo, para financiar a economia portuguesa até à tomada de posse do Governo que for eleito a 5 de Junho.

in Publico, 06/04/11