sábado, 2 de janeiro de 2010

Aldeia recuperada graças à vontade dos habitantes

 Mêstras, um paraíso a descobrir

A viagem da descoberta das casas de pedra e dos sonhos que podem ser os de qualquer um. A vida tem o inimitável poder de juntar, separar e voltar a juntar pessoas e histórias. Na freguesia do Cadafaz, uma aldeia conseguiu (re)nascer para não mais morrer.

Ver. Rever. Passaram mais de 30 anos, tanto tempo. Olha-se para um lado e para o outro, dá para reconhecer. As casas continuam lá, foram-se as pessoas, não as pedras. O verde imenso que atravessa o olhar, as árvores a perder de vista. A natureza num estado quase puro. Durante anos e anos, a vida nascia, crescia e desenvolvia-se por ali, nas Mêstras. Entretanto, o número de pessoas a partir na busca de melhores oportunidades de vida cresceu. Foram-se os filhos da terra, aos poucos. Vieram também as mortes, uma após uma, e a aldeia acabou mesmo por ficar deserta. Sem ninguém, apenas pedras deixadas ao abandono. E imaginar que em tempos mais de 90 habitantes, os Fossa Lameiros, davam vida a uma terra que acabou por morrer. Mas não morreu.
Ver. Rever. Passaram mais de 30 anos, muito tempo, Isabel Antunes ou Reinaldo Simões Alves voltam a pisar a calçada onde tantas vezes caíram quando eram crianças. Voltam as lembranças, a memória. Histórias de um passado que parece voltar, aos poucos, a um lugar onde já foi feliz.
Aldeias perdidas algures numa montanha no centro de Portugal. O tempo também passa pelas pedras e faz estragos. Há oito anos que as Mêstras ganharam um novo impulso, vida. Vieram os homens, veio a mudança. E de repente as casas de grandes blocos de xisto, com janelas e portas em carvalho e castanho foram reabilitadas. Os trilhos continuam os mesmos, as florestas verdes escuras, salpicadas de cogumelos, também. A diferença está na cor, mais nítida, mais perfeita, mais viva. Diferença que se nota por fora e por dentro. A recuperação de muitas casas antigas – um trabalho que está longe de acabar – é uma realidade que a Liga dos Amigos das Mestras não quer ver desaparecer. Jorge Veiga Antunes não é da terra, mas não importa. Tinha a ideia, a vontade, a determinação e assim fez renascer as casas, a capela, o centro de convívio. Ele e todos os membros da liga, sobretudo com apoios do QREN. Oito anos depois a ideia – que “isto não morresse” – superou todas as dificuldades.

Mil euros por uma casa

Reinaldo Simões Alves foi dos tais que um dia partiu. Foi com 25 anos mas regressou com muitos mais. Não tinha ideia de voltar às Mêstras, mas a altura para a despedida final ainda não chegou. Hoje Reinaldo tem 70 anos e é com força que anda para baixo e para cima na terra que o viu crescer. Também Isabel Antunes regressou, ou melhor, vai regressando sempre que pode. Lá atrás, no tempo, está uma partida para Lisboa “aos 12 anos, quando ainda cá estava muita gente”. Ainda mais atrás estão os “caminhos feitos debaixo de chuva e ao frio para uma escola ali perto”. Memórias, histórias com passado, presente e até futuro. A família ficou, as raízes também. Agora, aos 57 anos, Isabel Antunes continua a vir, ela e o marido Jorge Veiga, que não é da terra, mas não importa.
Aldeia abandonada? A aldeia não está deserta 365 dias por ano. De quando em quando vêem-se rostos, ouvem-se risos e brincadeiras de crianças. Pessoas que recuperaram as suas casas e que ainda vão tendo tempo para uma escapadela, um hábito que não querem perder.
Continua a haver casas por recuperar. Habitações de pedras junto ao rio que ainda não secou. Os preços não são elevados. por mil euros, por vezes um pouco mais, pode-se comprar uma habitação em ruínas. Depois, é (re)transformá-la, como quem dá corda a um relógio, mas para trás. Jorge Veiga Antunes, Isabel Antunes e Reinaldo Simões Alves não se arrependem. E de repente tudo volta ao seu normal e o som das águas do rio volta a ser ouvido. A aldeia continua à espera. A idade fica lá na outra cidade. Os olhos continuam postos no (des)conhecido, junto ao rio, junto às casas de pedra. O relógio anuncia o nosso tempo. Paramo-lo. Imagine o verde da floresta que atravessa o olhar. Imagine as pedras que se erguem nas encostas. Consegue? 



Nomes da terra não são esquecidos

MUITOS ATALHOS, caminhos sinuosos, caminhos de pedra escorregadia. À primeira vista, nem vivalma. Contudo, há corações a bater e pulmões a respirar por ali, nas Mêstras. Por momentos até a calçada das ruas ganha vida, uma existência que vai muito para além do momento presente. Na pedra continuam gravados os nomes das pessoas da terra, como por exemplo de Luciano Assunção Antunes, o primeiro soldado do concelho de Góis a morrer no Ultramar, corria o ano de 1962. Toda a localidade tem electricidade e até água. Há três anos que um depósito de água, com capacidade para 30 mil litros, abastece as pessoas e dá uma "ajudinha" em caso de incêndio.

Por Raquel Mesquita
in Diário da Beiras, 2/01/10

24 comentários:

  1. Em minha opinião, aqui está como se pode intervir de modo a dar vidas às nossas aldeias abandonadas.
    Apenas há que fazer criar na consciência dos políticos, que a renovação do Concelho também passa por aqui; com aldeias recuperadas e vivas é possível fazer delas cartaz que atraia turismo e fixar população.
    Desde que sejam dados apoios (isenções,criação de condições de acesso e infra-estruturas), certamente vão aparecer muitos Goienses que vão tomar em mãos a recuperação das suas habitações, ou que o foram dos seus antepassados e, nem que seja por poucos dias por ano, vamos ter a população do Concelho aumentada.
    Igualmente vão aparecer pessoas que, querendo abandonar a vida agitada dos grandes centros, vão querer aproveitar a oportunidade para se ligarem de vez ao meio rural.
    Espero bem que os políticos responsáveis aproveitem esta oportunidade e, de uma vez por todas, possamos dar ínicio ao relançamento do Concelho de Góis; al Aldeias de Xisto são importantes mas não são tudo. É preciso vida autêntica nas nossas aldeias e não fazer delas apenas "jardins zoolgicos" para turista visitar numa escapadela de fim de semana ou para aprecer nos jornais.

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  2. Anónimo3/1/10 16:30

    Muito bem apontado!

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  3. Anónimo4/1/10 12:04

    Também acho, ó apartidário. Mas explica-me lá como é que queres dar vida às aldeias? Já percebemos que tu "viste" o problema: não basta recuperar as casas e transformar as aldeias numa espécie de presépios de xisto para turista ver. E o turista vem uma vez e... fica visto. Agora fixar pessoas é que se torna bem mais dificil, ou impossivel. Viver a vida actual nas nossa aldeias é uma dor de cabeça permanente. Só para ricos em tempo e dinheiro. Voltar ao passado, quem é que quer? Portanto, para além do mercado da saudade e da romaria de fim de semana ou de Verão, aquilo não tem mais jeito... Aliás só serve para o Municipio gastar dinheiro em estradas, caminhos, àgua, rede eléctrica, etc., sem qualquer retorno válido. No tempo em que lá havia pouco ou nada, vivia por lá muita gente. Agora que existe quase tudo, não há lá ninguém...

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  4. Bem, antes de mais um reconhecimento: não sou, nem quero ser um iluminado e, embora defendendo o meu ponto de vista, estou aberto a novas maneiras de pensar.
    Mas vamos fazer um exercício mental:
    Eu vivo numa dessas aldeias abandonadas (pode mesmo ser o Liboreiro, as Mestras ou outra qualquer) e para não obrigar a Câmara a "gastar" dinheiro, sou incentivado a fixar a minha residência na sede de Concelho. Poupa assim a Câmara Municipal em água, estradas, electricidade, esgotos, etc.
    Depois, que já resido na sede de Concelho, o Governo toma a decisão que para poupar em estradas, esgotos, água, orçamento municipal, etc. todas as pessoas residentes em sede de Concelho devem ser deslocadas para a sede de Disrito, pois que é aí que se encontram todos os serviços referidos mais os hospitais, a Universidade e outros.
    Passados uns anos, mais um iluminado pensa que não se deve gastar mais dinheiro com a dispersão da população e então vamos deliberar alojar todos os habitantes do país na periferia da capital e, já agora, aproveitar para vender o resto do território nacional aos Espanhois ou então destinar o mesmo à concessão para coutadas, tirando dessa medida mais valias.
    Grande poupança de dinheiros públicos se consegue assim, à primeira vista claro, pois assim todos os serviços estão rentabilizados a 100% e o desperdício é zero.
    Será que é mesmo assim? Para um leigo como eu algo está mal neste raciocínio. Ganha-se em economia e perde-se em qualidade de vida.

    Aquilo em que todos temos de pensar é em inventar modos de criar condições para que as pessoas se fixem nas pequenas cidades, nas vilas e nas aldeias deste país. Estou certo que com pouco investimento do Estado e das Autarquias é possível chegar a uma situação aceitável e sustentável. Afinal a taxa de impostos é igual para todos quer vivam numa aldeia quer vivam no centro da capital, razão pela qual devem poder usufruir das mesmas condições de vida.
    Já alguém pensou que também são os habitantes das nossas aldeias a pagar a construção dos grandes aeroportos quando a terra em que habitam nem sequer possui estrada que permita o trânsito de uma ambulância para o conduzir a um médico, que infelizmente também cada fica mais longe fruto dessa pseudo economia?
    É o meu ponto de vista e nada mais vale do que isso.

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  5. Anónimo4/1/10 18:21

    Mais uma vez estou absolutamente de acordo, o 1º exercício coloca-se logo que lemos o comentário das 12.04. Quanto à forma como o interior e os meios mais desfavorecidos pagam pelo conforto das cidades é um ponto que me revolta muitas vezes. Temos até a obrigação de tomar medidas mais pro activas, exigirmos mais. Na minha opinião, faz até todo o sentido que pagássemos menos, afinal, devido às precárias acessibilidades tudo chega cá mais caro, isto se chegar.

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  6. Anónimo5/1/10 16:18

    Ó apartidário sabes qual é o teu problema: és socialista. E os socialistas têm uma visão orgânica da sociedade que é uma pura utopia! Esquesces-te que vivemos num País livre e cada um vive onde quer. Mas como também somos uns pobretanas, será mais cada um viver onde pode... Daí que ninguém quer viver nas aldeias, a começar pelos seus naturais! Então como queres fazer? Vamos buscar pretos a África? Metemos lá chinocas? Talvez encher aquilo de presos, sempre respiravam melhor ar?! Deixa-te de ilusões, vive a tua vida e deixa os outros em paz, a começar pelo orçamento do Municipio. Esse caminho de que falas acaba numa parede alta demais para as tuas capacidades...

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  7. Foi graças a mim que esta reportagem foi feita, sendo eu um filho da terra, da Cabreira, uma bela aldeia do concelho de Góis. É preciso sermos todos a puxar pelo nosso concelho, algima sugestão fica aqui o meu e-mail: goncalo.martins@asbeiras.pt

    Grande abraço

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Andamos todos muito calmos!

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  10. Ou apáticos.

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  11. Ou passivos.

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  12. Ou uns constrangidos e outros intrigados?

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  13. Eu só observadora!
    Sem expectativas!

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  14. É curioso que todos omitam (eventualmente por desconhecimento) que a aldeia das mestras, ainda antes da publicação da notícia nas Beiras, foi assaltada e as casas vandalizadas. É a prova de que não vale a pena arranjar as aldeias sem as povoar. E, como se faz isso? Porque não os proprietários pagarem uma quota (uma espécie de condomínio rural) que permitisse numa das casas recuperadas alojar um casal que para além de vigiar e cuidar da aldeia pudessem, por exemplo, cuidar de um rebanho de cabras e auferir um vencimento condigno. Podendo ser uma hipótese utópica, parece-me que se poderia pagar um vencimento de 150 € e talvez esse esquema fosse sustentável. Agora aldeias muito bonitas mas desertas parecem-me ter os dias contados...

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  15. Parece-me muito bem. Mas não seria 150 euros muito pouco?

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  16. É! Esta gente quer fazer omeletes sem ovos!...

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  17. As minhas desculpas. A minha ideia era escrever 1500€. No entanto, o valor não me parece o mais importante, mas a ideia. Se tivermos 10 casas recuperadas para fins de semana não será que os proprietários não poderiam dispender 100€/mês e estarem descansados? Já seriam 1000€/mês para os tais "caseiros" que também poderiam cultivar por exemplo hortícolas, galinhas, coelhos,etc que lhes poderim vender e assim reforçar os rendimentos do agregado...

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  18. Muito boa ideia mesmo.

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  19. Isso, coelhos na cartola?!!! Metam-se nisso a contar com os ovos no cuzinho da galinha e vão ver o reultado do negócio. Então vocês não vêem que a maior parte dos nossos proprietários não têm nem dinheiro para viverem dignamente lá por Lisboa, quanto mais para virem comprar produtos às aldeias pelo dobro do preço!... E para pagarem caseiros!... Vai lá vai...

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  20. Não é bem assim, nem todos são iguais a ti oh 11:37.

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  21. Já tenho fibra optica,no Cadafaz como sou xuxa é só falar com a dra.Lurdes

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  22. Meu caro companheiro,não sei quem és mas já cá fazias falta a falares da tua fibra optica!
    E acho que nem os"xuxas" que falaram,falaram,falaram com a dra Lurdes estão a xuxar nada(pelo menos que nós vejamos).Acho que a montanha pariu um rato!

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  23. Anónimo8/2/10 07:29

    Então não xuxam, não digas que não tens reparado.

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  24. Anónimo2/3/10 13:26

    Com o moral a zero,devido a doença,penso que vou dar uma volta a aldeia de Mestras com a mochila as costas.

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