quinta-feira, 26 de maio de 2011

Campanha esclarecedora, ou nem por isso


O tema cen­tral desta cam­panha teria de ser a questão da dívida sober­ana, do défice e o con­se­quente pedido de ajuda externa. Mas será que resolvi­das estas questões, temos cam­inho aberto para um futuro risonho? Não me parece.

Até ao momento não foi dis­cu­tido o papel que Por­tu­gal deve adop­tar numa União Europeia (UE) que mostra cres­centes sin­tomas de desagre­gação ou no mín­imo de falta de sol­i­dariedade. Que pos­tura assumir per­ante lid­er­anças que põem em causa tudo aquilo que rep­re­senta o “sonho europeu”? Até agora, nen­hum can­didato daquilo a que chamamos “arco da gov­er­nação” ousou pro­ferir qual­quer comen­tário, evi­tando futuros embaraços.
Para Por­tu­gal é deci­sivo saber qual o cam­inho que a UE vai seguir: rumo a uma maior inte­gração ou rumo ao apro­fun­da­mento da frac­tura. É aqui que se joga o futuro do país, porque em antítese ao que vem sendo dito pelos nos­sos prin­ci­pais inter­locu­tores políti­cos, Por­tu­gal sem­pre neces­si­tou de apoio externo (primeiro da Santa Sé, aquando da inde­pendên­cia; segundo, da aliança inglesa; ter­ceiro, do apoio europeu pós-PREC). Ire­mos a eleições sem saber qual a visão de cada um dos can­didatos rel­a­ti­va­mente ao cenário inter­na­cional ao qual esta­mos inti­ma­mente ligados.
Con­tin­uando no espec­tro inter­na­cional, seria impor­tante perce­ber qual o per­fil da política diplomática a adop­tar face às rev­oluções no Magrebe e no Próx­imo Ori­ente, obvi­a­mente condi­cionado pela pertença àNATO e à UE. Prob­le­mas rela­ciona­dos com migrações, aumento do preço do petróleo e ter­ror­ismo podem ser fac­tores tremen­da­mente deses­ta­bi­lizadores. Está por saber qual a visão dos pre­tendentes a primeiro-ministro.
Podemos con­statar algu­mas simil­i­tudes entre as recentes man­i­fes­tações em Espanha e as revoltas árabes. Em ambas vemos jovens que não acred­i­tam no sis­tema político e seus rep­re­sen­tantes, em luta por uma democ­ra­cia real que lhes per­mita mel­ho­rar a sua condição. Tal como o pro­fes­sor Adri­ano Mor­eira tem vindo a aler­tar, “a fron­teira da pobreza tem cam­in­hado para Norte, tendo já ultra­pas­sado o Mediter­râ­neo”, tor­nando os nos­sos prob­le­mas cada vez mais próx­i­mos aos do hem­is­fério sul, que jul­gá­va­mos tão distante.
O recente protesto da “ger­ação à rasca”, mesmo pecando pela inca­paci­dade de apre­sen­tar pro­postas conc­re­tas, mostrava uma ger­ação que não se sente rep­re­sen­tada pelos seus políti­cos e evi­den­ci­ava ainda um total descrédito no actual sis­tema. Seria impor­tante reti­rar algo destes exem­p­los no sen­tido de evi­tar o recrude­sci­mento da insat­is­fação dos jovens em par­tic­u­lar e da pop­u­lação em geral. Até ao momento, nen­hum can­didato aludiu a estas problemáticas.
Ao nível estri­ta­mente interno, obser­va­mos que foi esque­cido o tema da edu­cação. Depois de todos os par­tidos da oposição tentarem inter­romper a avali­ação dos pro­fes­sores, em cam­panha ninguém falou do assunto. Bem sei que é um tema difí­cil e que retira votos, mas não seria a altura de cada um se com­pro­m­e­ter com aquilo em que acredita?
A cul­tura ficou arredada da dis­cussão política. Ecoam sus­piros de quem quer passá-la a sec­re­taria de Estado, aprovei­tando a falta de din­heiros para sus­ten­tar tal decisão. Os nos­sos can­didatos pare­cem esquecer-se que a cul­tura é uma dis­ci­plina da política, tão impor­tante à sua com­preen­são como qual­quer dis­ci­plina metafísica.
O prob­lema demográ­fico é clara­mente dos mais pre­mentes, tam­bém ao nível europeu. No entanto, não surge hoje na agenda mediática, tornando-se facil­mente descartável.
Temos ainda a justiça, sis­tem­ati­ca­mente alvo de von­tades reformis­tas, sem que as mes­mas não passem de sim­ples notas pro­pa­gandís­ti­cas, pois é sabido que falta a cor­agem para mexer num lóbi com tan­tas lig­ações e sobreposições à própria política.
Por fim, de rel­e­var a ausên­cia do tema cor­rupção desta cam­panha, que vem reforçar o seu carác­ter tabu, como se não se tratasse de um aten­tado ao fun­ciona­mento daquilo a que gostaríamos chamar Estado de Direito.
Esta cam­panha não con­segue chegar junto dos cidadãos, pois con­tinua cen­trada na per­son­al­iza­ção da política, onde reina o ataque à pes­soa ao invés da apre­sen­tação de ideias e mod­e­los de desen­volvi­mento. Quando se fala na defesa ou ataque ao Estado Social ninguém demon­stra como finan­ciará a sua manutenção, ou então como com­pen­sará a sua diminuição. Ninguém ref­ere que a crise que vive­mos além de económica e finan­ceira é acima de tudo uma crise moral e de con­fi­ança. Mais do que dis­cussões suposta­mente ide­ológ­i­cas diluí­das na espuma dos dias pre­cisamos de capaci­dade para uma refundição do Estado democrático, aproximando-o do seu fim primeiro – servir o cidadão.
in Publico, 27/05/11 David San­ti­ago, 27 anos, mes­trando em Relações Inter­na­cionais no ISCSP

7 comentários:

  1. Vacuidades, pá! MUR

    ResponderEliminar
  2. De acordo! Expressamente destinadas a ti!!!

    ResponderEliminar
  3. Parece que te deste por achado, pá! MUR

    ResponderEliminar
  4. Gois e Arganil
    Juntos para acabar como concelhos dentro de 4 anos.
    Agora é desta vamos ver como isto em Gois vai acabar

    ResponderEliminar
  5. Nãã...Góis-Arganil-Lousã, os 3 um só Concelho. Se é para acabar com tachos então que se faça as coisas como deve ser.

    ResponderEliminar
  6. Concordo. Finalmente tinhamos um Concelho com algum jeito...

    ResponderEliminar
  7. Nada disso, pá! Está-se mesmo a ver: Arganil - Góis - Pampilhosa da Serra, com Góis no meio... à cabeça! A antiga comarca restabelecida em concelho. Assim é que é, pá! Tem tento! MUR

    ResponderEliminar

Não será permitida linguagem abusiva. Liberdade de Expressão não é ofender, levantar falso testemunho ou ridicularizar os outros. É vos dado livre arbítrio, façam um bom uso dele.
Por opção editorial, o exercício da liberdade de expressão é total, sem limitações, nas caixas de comentários abertas ao público. Tais comentários podem, por vezes, ter um conteúdo susceptível de ferir o código moral ou ético de alguns leitores, pelo que não recomendamos a sua leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.