O tema central desta campanha teria de ser a questão da dívida soberana, do défice e o consequente pedido de ajuda externa. Mas será que resolvidas estas questões, temos caminho aberto para um futuro risonho? Não me parece.
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Até ao momento não foi discutido o papel que Portugal deve adoptar numa União Europeia (UE) que mostra crescentes sintomas de desagregação ou no mínimo de falta de solidariedade. Que postura assumir perante lideranças que põem em causa tudo aquilo que representa o “sonho europeu”? Até agora, nenhum candidato daquilo a que chamamos “arco da governação” ousou proferir qualquer comentário, evitando futuros embaraços.
Para Portugal é decisivo saber qual o caminho que a UE vai seguir: rumo a uma maior integração ou rumo ao aprofundamento da fractura. É aqui que se joga o futuro do país, porque em antítese ao que vem sendo dito pelos nossos principais interlocutores políticos, Portugal sempre necessitou de apoio externo (primeiro da Santa Sé, aquando da independência; segundo, da aliança inglesa; terceiro, do apoio europeu pós-PREC). Iremos a eleições sem saber qual a visão de cada um dos candidatos relativamente ao cenário internacional ao qual estamos intimamente ligados.
Continuando no espectro internacional, seria importante perceber qual o perfil da política diplomática a adoptar face às revoluções no Magrebe e no Próximo Oriente, obviamente condicionado pela pertença àNATO e à UE. Problemas relacionados com migrações, aumento do preço do petróleo e terrorismo podem ser factores tremendamente desestabilizadores. Está por saber qual a visão dos pretendentes a primeiro-ministro.
Podemos constatar algumas similitudes entre as recentes manifestações em Espanha e as revoltas árabes. Em ambas vemos jovens que não acreditam no sistema político e seus representantes, em luta por uma democracia real que lhes permita melhorar a sua condição. Tal como o professor Adriano Moreira tem vindo a alertar, “a fronteira da pobreza tem caminhado para Norte, tendo já ultrapassado o Mediterrâneo”, tornando os nossos problemas cada vez mais próximos aos do hemisfério sul, que julgávamos tão distante.
O recente protesto da “geração à rasca”, mesmo pecando pela incapacidade de apresentar propostas concretas, mostrava uma geração que não se sente representada pelos seus políticos e evidenciava ainda um total descrédito no actual sistema. Seria importante retirar algo destes exemplos no sentido de evitar o recrudescimento da insatisfação dos jovens em particular e da população em geral. Até ao momento, nenhum candidato aludiu a estas problemáticas.
Ao nível estritamente interno, observamos que foi esquecido o tema da educação. Depois de todos os partidos da oposição tentarem interromper a avaliação dos professores, em campanha ninguém falou do assunto. Bem sei que é um tema difícil e que retira votos, mas não seria a altura de cada um se comprometer com aquilo em que acredita?
A cultura ficou arredada da discussão política. Ecoam suspiros de quem quer passá-la a secretaria de Estado, aproveitando a falta de dinheiros para sustentar tal decisão. Os nossos candidatos parecem esquecer-se que a cultura é uma disciplina da política, tão importante à sua compreensão como qualquer disciplina metafísica.
O problema demográfico é claramente dos mais prementes, também ao nível europeu. No entanto, não surge hoje na agenda mediática, tornando-se facilmente descartável.
Temos ainda a justiça, sistematicamente alvo de vontades reformistas, sem que as mesmas não passem de simples notas propagandísticas, pois é sabido que falta a coragem para mexer num lóbi com tantas ligações e sobreposições à própria política.
Por fim, de relevar a ausência do tema corrupção desta campanha, que vem reforçar o seu carácter tabu, como se não se tratasse de um atentado ao funcionamento daquilo a que gostaríamos chamar Estado de Direito.
Esta campanha não consegue chegar junto dos cidadãos, pois continua centrada na personalização da política, onde reina o ataque à pessoa ao invés da apresentação de ideias e modelos de desenvolvimento. Quando se fala na defesa ou ataque ao Estado Social ninguém demonstra como financiará a sua manutenção, ou então como compensará a sua diminuição. Ninguém refere que a crise que vivemos além de económica e financeira é acima de tudo uma crise moral e de confiança. Mais do que discussões supostamente ideológicas diluídas na espuma dos dias precisamos de capacidade para uma refundição do Estado democrático, aproximando-o do seu fim primeiro – servir o cidadão.
in Publico, 27/05/11 David Santiago, 27 anos, mestrando em Relações Internacionais no ISCSP
Vacuidades, pá! MUR
ResponderEliminarDe acordo! Expressamente destinadas a ti!!!
ResponderEliminarParece que te deste por achado, pá! MUR
ResponderEliminarGois e Arganil
ResponderEliminarJuntos para acabar como concelhos dentro de 4 anos.
Agora é desta vamos ver como isto em Gois vai acabar
Nãã...Góis-Arganil-Lousã, os 3 um só Concelho. Se é para acabar com tachos então que se faça as coisas como deve ser.
ResponderEliminarConcordo. Finalmente tinhamos um Concelho com algum jeito...
ResponderEliminarNada disso, pá! Está-se mesmo a ver: Arganil - Góis - Pampilhosa da Serra, com Góis no meio... à cabeça! A antiga comarca restabelecida em concelho. Assim é que é, pá! Tem tento! MUR
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