Na próxima sexta-feira, dia 2 de Abril, vai-se realizar a antiga tradição da quaresma "Enterro do Bacalhau". Trata-se do julgamento teatral do bacalhau que se inicia com um cortejo fúnebre, alguns dos personagens que participam no enterro são o doutor juiz, os advogados, o oficial de diligências, o réu bacalhau e as testemunhas – salsa, alho, cebola, e vários temperos.
A apresentação está marcada para as 21:30 horas, na Associação Educativa e Recreativa De Góis, a Iniciativa está a cargo do Grupo de Escuteiros 74 de Góis, com o apoio da comunidade goiense.
A tradição
A tradição do "Enterro do Bacalhau" parece remontar ao século XVI, durante o movimento contra-reforma. Sabe-se que o Concílio de Trento, conferindo á Igreja Católica o poder centralizado e o autoritarismo que possuia antes da Reforma de Lutero e Calvino, levou a que a nova Inquisição combatesse em força as chamadas heresias, independentemente da perseguição aos dos Evangelhos atrás citados. Esta Igreja que proibia o consumo total da carne durante a Quaresma, abria um precedente a todos aqueles que comprassem a bula. Este indulto só servia os mais abastados, que o podiam pagar, enquanto os desfavorecidos, a grande maioria afinal, teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação durante as sete semanas da quaresma. O peixe mais acessivel era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas teve de abdicar, não sem que antes criasse esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua impotência.
O bacalhau implantou-se assim nos lares dos pobres, sendo o seu salvador. Cozinhado de mil maneiras diferentes, ele foi absoluto durante o período da Quaresma findo o qual o tribunal fantoche dos filhos o julgou e o condenou a morte, por inveja da sua popularidade. O advogado de acusação, o traidor "Filho da Maria Malvada", cujas origens eram de um mero filho do povo, fundamentou o seu ataque no facto de, durante o período de abstinência, só lhe ter calhado do mal-cheiroso, do escamudo, do mal-curtido, do rabo e asa, etc.
Esta traição enraiveceu uma vez mais toda aquela gente simples que, durante o cortejo, pede a sua cabeça, para que se faça justiça ao bacalhau.
Os três principais sermões: "Vida e Morte do Bacalhau", "Testamento do Bacalhau" e as "Exéquias do Bacalhau", formam com as quadras cantadas ao som da marcha fúnebre de Chopin, um espectáculo digno de ser visto. Para além dos três sermões apontados, é tradição do Soutocico, a queima do Judas, no mesmo dia e após o enterro. Logo que o bacalhau desce á cova, segue-se um sermão ao Judas que começa "...São Cipriano por Belzebú te invoco, pote das almas, toucinho crú, bruxas do inferno, luzecus do além, penas de corvo, sangue de frango, louvo o tranglomano, para sempre louvado, pater, filho e espirito sentado ..."
Seguidamente, o Judas é queimado e rebentado entre alaridos e gáudio da multidão.
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